Topo

Josias de Souza

Ministro tenta negar privilégios ao filho-deputado

Josias de Souza

07/01/2012 21h47

Não houve exceção. Seis ministros encrencados. Antes de cair, todos divulgaram notas de 'esclarecimento'. Fernando Bezerra Coelho, o sétimo, adotou o mesmo modelo. Escreveu coisas definitivas. Mas não definiu muito bem as coisas.

Abriu o texto com a encrenca do dia: o privilégio no empenho das emendas do filho Fernando Coelho. Deputado pelo PSB pernambucano, ele pendurou no orçamento da Integração Nacional R$ 9,1 milhões em obras. O pai mandou empenhar 100%.

"Não há favorecimento politico", diz a nota. "Em 2011, 49 parlamentares de diferentes Estados e partidos tiveram mais de 95% dos empenhos efetuados."

O deputado-filho, prossegue o texto, "teve suas emendas […] empenhadas em percentual e valor equivalente a outros 43 parlamentares."

Há no Senado um sistema chamado 'Siga Brasil'. Acompanha em ritmo diário a execução do Orçamento da União. Varejando-se os dados, descobre-se: na pasta do ministro-pai, nenhum congressista foi aquinhoado como o deputado-filho.

De duas, uma: o ministro pode demonstrar que o sistema Siga não merece crédito. Nomes e cifras, por favor. Do contrário, a nota oficial não merecerá respeito.

No mais, o ministro escreveu que sua equipe é técnica, não política. Negou o flerte com o nepotismo. E quanto a Clementino Coelho, o irmão que preside interinamente a Codefasf? Bem, sobre isso o ministro transferiu a explicação para outra nota. Divulgou-a Gleisi Hoffmann.

No texto, a chefe da Casa Civil informa: o colega da Integração Nacional já propôs a substituição do irmão da Codevasf. Indicou Guilherme Almeida. Deu-se há 50 dias. Por que diabos a troca não foi efetivada?

Segundo a nota de Gleisi, a lei exige a realização de "consultas". Curioso, muito curioso, curiosíssimo. Guilherme, o indicado de Fernando Bezerra, já ocupa um cargo de direção na Codevasf.

A Casa Civil alega que "a assunção à presidência exige novas consultas." Insinua que o processo foi concluído. "Guilherme Almeida será nomeado nos próximos dias."

Como se vê, as chuvas produziram na Presidência da República um benfazejo efeito colateral. Súbito, abriram-se as gavetas. Papéis de 50 dias ganharam o topo da pilha.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.