Sob tiroteio, Dilma vai manter Fernando Bezerra
Alvejado às claras pelas manchetes e no escurinho por partidos que ambicionam sua poltrona, o ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional) vai sobreviver às chuvas e à "reforma" ministerial.
Dilma Rousseff disse, em privado, que Bezerra (PSB) fica na Esplanada. Com isso, evitam-se dois desdobramentos: um problema político e um constrangimento.
O problema viria da reação do governador pernambucano Eduardo Campos (PSB). Presidente do PSB federal, ele é padrinho político do ministro Fernando Bezerra.
O constrangimento viria da reiteração do discurso segundo o qual Dilma sabia das verbas anticatástrofes que Bezerra destinou ao seu Estado. Mais que isso: aprovou o que hoje é visto como privilégio.
É nessa condição, respaldado pela chefe, que Bezerra comparece nesta quinta (12) à comissão que representa o Legislativo no recesso. Diga o que disser, entrará e sairá da comissão como ministro.
Prevista na Constituição (parágrafo 4º do artigo 58) a comissão que ouvirá as "explicações" de Bezerra só funciona nos recessos do Congresso. A composição reflete a correlação de forças dos partidos.
Significa dizer que Bezerra falará para um plenário amistoso. Dos sete senadores que compõem a comissão, apenas um é oposicionista. Dos 17 deputados, os representantes da oposição são contados em três.
Para dar tempo aos congressistas que se encontram fora de Brasília, agendou-se a audiência para o período vespertino. Começa às 14h30. Os antagonistas do Planalto torcem pela desmobilização da tropa rival.
"Se esvaziar, é melhor", diz o senador Álvaro Dias (PR). Líder do PSDB, ele vai à comissão como representante solitário da oposição no Senado.
"O que tem havido nesses depoimentos é um rolo compressor do governo. Assim, será melhor se comparecerem poucos parlamentares. Evita-se o ôba-ôba e a visibilidade é maior."
Considerando-se a movimentação da infantaria governista, é improvável que Bezerra fique ao desamparo. Até congressistas que não integram formalmente a comissão planejam dar as caras.
É o caso, por exemplo, do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). "Vou prestar minha solidariedade ao ministro", afirma. "Falarei sobre a correção dele no ministério".
Como líder, Henrique tem direito ao microfone. Dirá, entre outras coisas, que seu Estado, o Rio Grande do Norte, não se sente preterido por Bezerra na distribuição de verbas.
Para incômodo da oposição, o deputado não falará apenas em seu nome ou em nome do PMDB. Obteve autorização para citar o endosso da governadora potiguar Rosalba Carlini. Que é do DEM.
O mesmo DEM cujo líder, senador Demóstenes Torres (GO), representou contra Bezerra no Ministério Público Federal. O principal argumento da peça é o privilégio a Pernambuco no rateio das arcas da Integração Nacional.
Nesta quarta (11), o procurador-geral da República Roberto Gurgel remeteu o pedido de abertura de ação civil formulado por Demóstenes ao braço do Ministério Público Federal no DF.
Bezerra é acusado de improbidade administrativa. Reza a lei que, nesses casos, os procuradores de primeiro grau podem atuar contra ministros de Estado.
Dependendo da decisão que vier a ser tomada pelos procuradores de Brasília, a "reforma" de Dilma pode manter no ministério um titular submetido ao vexame de uma investigação formal.
– Em tempo: Ilustração de Humberto, via 'Jornal do Commercio'.
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