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Josias de Souza

Kassab deixa o PT perplexo e o PSDB indignado

Josias de Souza

18/01/2012 18h32

Gilberto Kassab revelou-se um político sólido. Hoje, é enfaticamente a favor de tudo o que ontem atacava com firmeza. E nada impede que, amanhã, recorra a um resoluto vice-versa.

No tempo em que a geladeira era branca, o telefone era preto e o PT era vermelho, Kassab era malufista. Foi secretário de Planejamento da prefeitura de Celso Pitta, mal planejada por Paulo Maluf.

De volta à prefeitura de São Paulo desde 2004 –primeiro como vice do grão-tucano José Serra, depois como titular— Kassab arrostou ataques implacáveis do PT.

Súbito, Kassab fez de Fernando Haddad, o candidato de Lula, sua principal aposta para 2012. Ateou perplexidade no petismo e indignação no tucanato. Deu de ombros. E segue em frente.

A indignação do PSDB perdeu o nexo no instante em que Geraldo Alckmin começou a tricotar um acordo com o PP de Paulo Maluf. A irritação do PT foi rapidamente dissolvida pelo pragmatismo de Lula.

Muitos acusam o PT de falta de miolos. Mas todos reconhecem: guia-se por uma única cabeça. Um cérebro que, no plano federal, levou Dilma do anonimato à Presidência. E, na esfera municipal, tenta guindar Haddad do nada ao comando da mais rica cidade do país.

Nos próximos dias, os contatos telefônicos de Kassab com Haddad e seus operadores resultarão num encontro. Vão à mesa os detalhes de um acerto cada vez menos improvável.

Kassab ajeita o meio de campo. Sob atmosfera amistosa, recepcionou nesta quarta (18) o ministro petê Alexandre Padilha (Saúde). Recebeu dele a promessa de liberação de R$ 6,4 milhões.

A verba financiará a recuperação de dependentes químicos. Injeta Brasília na operação da Cracolândia, até então desenvolvida em parceria exclusiva com o governo tucano de Alckmin.

Kassab serve-se de uma parceria administrativa inatacável para pavimentar suas maquinações políticas. Leva às raias do paroxismo o que dissera ao abandonar o DEM para fundar o PSD, um partido que "não é de direita, de esquerda nem de centro."

O PSD é a legenda que veio para provar que, em política, o 'impossível' está contido no vocábulo 'possível'. Um observador incauto poderia imaginar o eleitor reagirá mal à incoerência. Tolice.

Lula já provou e Kassab não ignora: o eleitorado brasileiro é um agrupamento de tolos dividido em duas alas. Numa, os que duvidam de tudo. Noutra, os que já não duvidam de nada. Ambos costumam votar a esmo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.