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Josias de Souza

Negromonte se diz ‘mais firme que as pirâmides’

Josias de Souza

19/01/2012 03h40

Assíduo frequentador das listas de candidatos a ex-ministros, Mário Negromonte não cogita pedir demissão da pasta das Cidades. Ao contrário. Considera-se "mais firme do que as pirâmides do Egito".

Os últimos que expressaram semelhante autoconfiança –o pemedebê Wagner 'mais firme que a rocha' Rossi e o pedetê Carlos 'só saio a bala' Lupi— encontram-se, hoje, distantes da Esplanada.

A despeito das analogias que o espreitam, Negromonte dá de ombros para o noticiário. Em entrevista ao repórter Gerson Camarotti, referiu-se ao falatório sobre sua saída iminente como "fogo amigo".

"Isso tudo é plantado. Tem muita gente interessada nesse ministério", diz. Fustigado por integrantes do seu próprio partido, o PP, Negromonte disse ter batido à porta de um petista ilustre.

"Perguntei ao [ministro] Gilberto Carvalho, que é meu amigo, sobre isso. Ele falou que, se tiver alguma coisa, serei o primeiro a saber. A presidente não governa pela imprensa."

Recordou-se a Negromonte que quem governa as manchetes é o Planalto. Dali saem as notícias sobre o desejo de Dilma Rousseff de entregar a poltrona das Cidades a Márcio Fortes, o pepê que comandou a pasta sob Lula.

E ele: "Essa especulação só vai desgastar Márcio Fortes. A bancada do PP não aceita ele. Ele tem forte rejeição na bancada. Quando era ministro, quem defendia o Márcio Fortes era eu. Toda a bancada pediu a cabeça dele."

De fato, os deputados do PP torcem o nariz para a volta de Márcio Fortes. Mas não parecem inclinados a manter a cabeça de Negromonte sobre o pescoço. Nas últimas horas, ganhou proeminência um nome alternativo: Aguinaldo Ribeiro (PB), líder do PP na Câmara.

Nesta quarta (18), o deputado esteve com a ministra petê Ideli Salvatti (Coordenação Política). Negromonte não se deu por achado: "Falei hoje com o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro. Ele esteve no Planalto e disse que estava tudo bem."

Como que decidido a passar a impressão de normalidade, Negromonte diz que está "preparando os dados do ministério para a reunião setorial de domingo". Uma preparação para a reunião ministerial agendada por Dilma para segunda-feira (23).

E quanto às pressões para que deixe o cargo? "Se eu sentir qualquer coisinha, vou no Palácio do Planalto e entrego o cargo. Se me sentir indesejado, vou embora."

O ministro cuida de abrir uma fenda estratégica em sua pirâmide: "Se estou numa festa, e está todo mundo de cara feia pra mim, vou embora", ele diz.

Mas emenda: "Agora, se tiver que sair por vontade da presidente Dilma, por vontade minha, ou do bancada, duvido que o Márcio Fortes volte para o ministério. A bancada não deixará."

Por precaução, Negromonte flexibiliza a metáfora egípcia. "Sou flex." Hã?!? "Sou flexível. Não tenho apego ao cargo. Estou aqui para cumprir uma missão."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.