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Josias de Souza

Cuba: morte incômoda precede a visita de Dilma

Josias de Souza

21/01/2012 07h29

A União Patriótica de Cuba, ONG sediada em Havana, anunciou: morreu nesta sexta (20) o dissidente Wilman Villar Mendoza, de 31 anos. Sucumbiu após submeter-se a uma greve de fome de 56 dias. Na prisão.

Wilman Mendoza fora recolhido ao cárcere em novembro. Acusaram-no de desrespeito à autoridade, crimes contra o Estado e resistência à prisão. Era membro de um sindicato que se opõe à ditadura dos irmãos Castro.

A morte ocorre dez dias antes da chegada de Dilma Rousseff. A presidente brasileira embarca para Cuba no dia 31 de janeiro. Repete-se com ela algo semelhante ao que sucedera com Lula, em fevereiro de 2010.

Em sua última visita a Cuba, Lula, mais azarado do que Dilma, desembarcara em Havana no dia da morte do dissidente Orlando Zapata Tamoyo, que ficara sem comer por 85 dias. Instado a comentar a encrenca, Lula saiu-se com o seguinte comentário:

"Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por uma greve de fome. Eu, depois da minha experiência de greve de fome, pelo amor de Deus, ninguém que queira fazer protesto peça para eu fazer greve de fome que eu não farei mais."

O repórter Elio Gaspari recordou à época: "Em 1980, quando penou 31 dias de cadeia que ajudaram-no a embolsar pelo Bolsa Ditadura um capital capaz de gerar mais de R$ 1 milhão, Lula fez quatro dias de greve de fome. Apanhado escondendo guloseimas, reclamou: 'Como esse cara é xiita! O que é que tem guardarmos duas balinhas, companheiro?'."

Depois de lamentar que gente como Zapata "se deixe morrer" na Cuba dos companheiros Castro, Lula acrescentou ao inaceitável uma pitada de escárnio. De volta ao Brasil, comparou os dissidentes cubanos que recorrem à autoprivação alimentar como instrumento de resistência aos bandidos comuns das cadeias brasileiras.

O acinte foi repudiado aqui e alhures. Em sua passagem por Cuba, Dilma decerto será instada por repórteres e entidades de defesa dos direitos humanos a dizer meia dúzia de palavras sobre a morte de Wilman Mendoza. Dispõe de uma dezena de dias para planejar uma manifestação que mereça respeito.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.