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Josias de Souza

Geddel receia que seu PMDB vire ‘o DEM do PT’

Josias de Souza

27/01/2012 05h18

Em meio à crise do Dnocs, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) acomodou no twitter um lote de notas reveladoras. Ajudam a entender o que se passa no sótão do sócio majoritário da coligação governista.

Para Geddel, hoje vice-presidente da Caixa Econômica Federal, o PMDB encontra-se pendurado nas manchetes em posição incômoda: "Tô achando o noticiário envolvendo o PMDB muito carregado. Tá na hora de parar para arrumar, a política tá mal conduzida."

Acha que seu partido deveria mimetizar a legenda de Dilma Rousseff. Sob pena de ter de se contentar com as sobras do processo: "Vejo o PT discutindo 2018, e o PMDB? Nosso destino não pode ser aguardar a posição dos outros pra ver que migalhas vão nos caber."

Receia que, submetido aos planos do PT, o PMDB flerte com o risco de tornar-se irrelevante. A agremiação estaria para o petismo como os 'demos' estão para o tucanato: "Partidos não devem se entregar a outros partidos. O DEM se entregar ao PSDB é um bom exemplo."

Quanto à demissão de Elias Fernandes, o afilhado que Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) mantinha no Dnocs, Geddel discordou do método, não do mérito: "Ruim esse episódio do Dnocs. A forma não trás nenhuma contribuição à aliança entre PT e PMDB."

Sob Lula, Geddel comandou a pasta da Integração Nacional, de cujo organograma pende o Dnocs. Elias Fernandes fora nomeado na sua gestão. Há outros sobreviventes da época de Geddel. Gente que o novo ministro, Fernando Bezerra (PSB), premido pelo Planalto, cogita mandar ao meio-fio.

"Tá demorando, não?", deu de ombros Geddel, destoando de Henrique Alves, que quebrou lanças por Elias. "Já não sou ministro há dois anos, nada mais natural que o [novo] ministro monte sua equipe, como à época montei a minha."

Geddel toma distância dos nomeados: "Não tenho indicados no Ministério da Integração, lá estão ainda pessoas que me ajudaram como ministro. Não tenho afilhados, fora os que levei à pia batismal."

Tomado ao pé da letra, Geddel soa como um quase dissidente. Na Bahia, já se tornou o mais fervoroso adversário do governador petista Jaques Wagner. Para a eleição municipal de 2012, costura uma aliança que inclui os oposicionistas PSDB e DEM. Parece considerar a hipótese de, no futuro, distanciar-se também do PT federal.

As reflexões de Geddel são compartilhadas por um número crescente de pemedebês. O grupo dos insatisfeitos joga com o relógio. Divide-se em duas alas. Uma tem pouca vocação para o de$apego. Outra não tem, ainda, um nome para contrapor ao de Dilma, o projeto reeleitoral do PT.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.