Topo

Josias de Souza

Irritado com paralisia da Câmara, Romário se diz ‘puto’ e pede ‘alguma porra pra fazer’ em Brasília

Josias de Souza

09/02/2012 05h13

Reaberta na semana passada, a Câmara federal encerra a segunda semana de "trabalho" sem votar nenhum projeto. A pauta é extensa. Mas um desacordo do bloco governista com a oposição e com parte de seus próprios aliados leva à paralisia. Gerente de polêmicas, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), preferiu encerrar a sessão desta quarta (8) sem testar os humores do plenário.

Abespinhado, o deputado Romário (PSB-RJ) plugou-se à internet na madrugada desta quinta (9). Despejou sua irritação no twitter. Dirigindo-se à "galera" que o segue na web, disse estar "feliz e puto também". Ele como que sugeriu um título para sua indignação: "Romário fica indignado com lentidão na Câmara."

Na ponta do lápis, a inatividade remunerada da Câmara dura dez dias. Mas Romário exagerou: "Tem 3 semanas que venho em Brasília para trabalhar e nada acontece. E olha que estamos em ano de eleição."

Autoconvertido numa espécie de zagueiro de tome de várzea, o ex-jogador foi à canela: "Espero que na minha próxima vinda a Brasília tenha alguma porra pra fazer. Ou será que o ano só vai começar depois do Carnaval?

Sob o comando de Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder de Dilma Rousseff na Câmara, o pedaço do consórcio governista leal ao Planalto pretendia votar o projeto que cria o Funpresp, fundo de previdência complementar dos servidores públicos.

Essa proposta foi guindada por Dilma à condição de prioridade. Porém, conforme noticiado aqui na véspera, os "aliados" PR e PDT decidiram desafiar a presidente. Associaram-se a uma ameaça de obstrução do PSDB.

Vaccarezza recuou. Marco Maia cogitou levar a voto uma das quatro medidas provisórias que atulham a pauta de votações. O líder de Dilma se opôs. E nada foi votado. Nem mesmo um projeto previdenciário que parecia incontroverso.

Trata-se da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) número 270. Tramita na Câmara desde 2008. Concede proventos integrais a trabalhadores aposentados por invalidez. Em dezembro do ano passado, fora aprovada em primeiro turno.

Antes de ser enviada ao Senado, a proposta precisa ser confirmada numa segunda votação. Nessa matéria, impera o consenso. Mas nada de votação. Romário fez da língua um bico de chuteira.

Chutou uma vez: "Não foi votada porque os parlamentares alegaram falta de tempo hábil para concluir se ela é positiva ou negativa para o povo." Bicou de novo: "Têm quatro anos que essa PEC tramita na Casa e não tiveram tempo de decidir se é boa ou ruim?"

Na zaga do twitter, o ex-artilheiro tratou também do tema que monopoliza as manchetes: a revolta dos policiais militares. Anotou: "A PEC 300 também não foi votada. Têm greves acontecendo, pessoas morrendo e lojas sendo saqueadas. Nós políticos somos culpados mesmo!"

A PEC 300 é aquela proposta de emenda constitucional que cria um piso nacional para os salários de PMs e bombeiros. A Câmara aprovou-a primeiro turno. Deu-se em julho de 2010, a três meses da eleição presidencial. Desde então, o governo opera para que o segundo round da votação não ocorra.

Romário desaprova os meios empregados pelos PMs em greve na Bahia, mas apoia os fins: "Claro que nada tem que ser levado para o lado da violência e muito menos da baderna, mas temos que resolver o problema dos policiais."

Alheio à alegação de insuficiência orçamentária, o deputado toma as dores dos PMs –"profissionais que têm família e dão a vida para garantir a nossa vida"— de olho em potenciais eleitores –"um policial carioca não pode ganhar menos de R$ 1 mil."

Afaga também os soldados de outras praças, adiantando o voto: "Os policiais de outros Estados também não podem ganhar menos do que tem direito. Antecipadamente, digo que vou votar a favor dos policias."

Como que receoso de tomar um cartão vermelho, perte de três da madrugada, Romário retirou-se de campo: "Vou parar por aqui pra não dar mais porrada. Boa noite! Valeu!"

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.