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Josias de Souza

Durante a greve, 59 morrem com bala na cabeça

Josias de Souza

12/02/2012 05h58

Decretada em assembléia da noite de 31 de janeiro, a greve da Polícia Militar da Bahia produziu estatísticas macabras. Entre 1o de fevereiro, data em que os PMs cruzaram os braços, e a manhã deste sábado (11), dia em que decidiram voltar ao ao trabalho, foram assassinadas em Salvador 167 pessoas.

Os repórteres Rogério Pagnan, Fábio Guibu e Graciliano Rocha deram-se ao trabalho de mergulhar nos 'boletins de ocorrência' do Departamento de Homicídios da Polícia Civil baiana. Manusearam documentos lavrados entre 31 de janeiro e 9 de fevereiro. O resultado da análise foi levado às páginas da Folha.

No período pesquisado, os cadáveres eram contados em 109. Excluindo-se seis pessoas passadas na faca, duas linchadas e uma carbonizada, chega-se ao numero de assassinados a bala: 100. A maioria dos corpos, 59, desceu à cova com perfurações de tiro na cabeça. Coisa típica de execução.

Vale a pena ouvir o diretor do Departamento de Homicídos da Bahia: "Quando alguém atira na cabeça é porque conseguiu chegar perto da vítima. Não é tiro para se defender ou apenas ferir outra pessoa. É para matar."

Dos 109 homicídios cobertos pela pesquisa dos repórteres, 99 ocorrrem nos subúrbios, nas favelas e nos bairros pobres de Salvador. No alvorecer da greve, o governador Jaques Wagner creditara parte das mortes a grevistas interessados em espalhar o pânico. Dissera que, havendo provas de execução, a suspeita viraria denúncia formal.

Torça-se para que o encerramento da greve não elimine a curiosidade do governador. Antes desejável, a elucidação dos assassinatos tornou-se algo imperioso. O silêncio da banda boa da PM da Bahia –supondo-se que ela exista— é constrangedor e apavorante.

Constrange porque passa ao contribuinte a impressão de que o dinheiro que lhe tiram da carteira financia o crime. Apavora porque não se vislumbra, por ora, a mais remota perspectiva de punição dos criminosos. Ou muda-se o quadro ou nada do que as autoridades baianas disserem merecerá respeito.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.