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Josias de Souza

Dilma puxa faca: R$ 55 bi. Nem saúde escapou!

Josias de Souza

15/02/2012 17h25

Guido Mantega estreou no ano de 2012 sob a pele do rabino da piada. Piada velha, já meio sem graça. Mas que, para muitos, ainda tem enorme serventia. Na anedota original, o rabino é procurado por um sujeito em desespero. Vivia num cubículo. Queixava-se da escassez de meio$ e do excesso de aflições.

O rabino, você sabe, aconselhou-o a levar para morar com ele e sua grande família um bode. O que era ruim, tornou-se muito pior. Decorrido um mês, o sábio conselheiro mandou tirar o bode da casa. O alívio instantâneo fez o pobre imaginar-se a mais venturosa das criaturas.

O bode do ministro da Fazenda foi enfiado no Orçamento da União de 2012. Mal for a aprovado pelo Congresso e Mantega já informava que haveria um corte. O dinheiro, que já era pouco, ficaria ainda mais miúdo. Sumiriam R$ 60 bilhões. O corte talvez chegasse a R$ 70 bilhões.

Nesta quarta (15), acompanhado da colega Miriam Belchior, do Planejamento, Mantega informou que a facada será menor: R$ 55 bilhões. A coisa foi de pior a mal. O Orçamento continua apertado. Porém, ao calibrar a faca, a turma de Dilma Rousseff tirou da sala, senão o bode inteiro, um pedaço dele.

Foi a maneira encontrada pelo governo para atenuar os efeitos do anúncio de um talho 10% maior do que aqueles R$ 50 bilhões cortados no alvorecer de 2011. Hoje, como ontem, atribui-se o tamanho da lâmina à necessidade de ajustar as despesas às previsões de receita e à obrigatoriedade de produzir superávit de caixa.

Em 2012, vaticina o governo, a arrecadação será R$ 29,4 bilhões menor do que o previsto no Orçamento aprovado por deputados e senadores. A Receita coletará R$ 24,6 bilhões a menos. A Previdência arrostará erosão de R$ 4,8 bilhões. Por mal dos pecados, o governo precisa entregar um superávit de R$ 139,8 bilhões.

A lâmina desceu sobre dois tipos de despesa. As obrigatórias (folha de pagamento, por exemplo), foram podadas em R$ 20,512 bilhões. As discricionárias (custeio da máquina e programas governamentais) foram reduzidas em R$ 35,010 bilhões. Alega-se que foram salvos os investimentos e os gastos sociais. Lorota.

Nada pode ser mais social do que os gastos com saúde e educação. E nem essas duas áreas estratégicas foram poupadas do corte. Repetindo: a verba dos ministérios que cuidam dos hospitais e das escolas, que já era pouca, ficou menor. Da Saúde, a faca levou R$ 5,47 bilhões. Da Educação, R$ 1,93 bilhão.

À medida que os meses forem avançando, se a crise não roer a arredação, o governo pode devolver ao Orçamento parte da grana que cortou. Foi assim no ano passado. Dos R$ 50 bilhões anunciados no começo do exercício, foram cortados de fato algo como R$ 30 bilhões.

Resta à clientela rezar para que, na hora de refazer as contas, Brasília dê preferência à restauração do social em detrimento, por exemplo, das emendas que deputados e senadores penduram no Orçamento para despejar verbas nos municípios de onde retiram os votos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.