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Josias de Souza

Tripoli, um dos 4 pré-candidatos tucanos em SP, afirma que não desiste por Serra nem se ficar só

Josias de Souza

24/02/2012 03h30

Uma das imposições fixadas por José Serra para tornar-se candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo é a ausência de oponentes internos. A julgar pelo que diz o deputado federal Ricardo Tripoli essa pré-condição não será alcançada.

"Não vou me retirar da disputa", disse Tripoli em entrevista ao blog. O deputado é um dos pré-candidatos que se registraram para disputar a preferência do PSDB nas prévias marcadas para 4 de março. Os outros três são José Aníbal, Bruno Covas e Andrea Matarazzo.

O repórter indagou: mesmo se todos os outros renunciarem, se ficar Serra de um lado e Tripoli de outro, ainda assim não vai abdicar da candidatura? E o deputado, em timbre peremptório: "Pode me cobrar depois. Não retiro."

Tripoli afirma que consultou Fernando Henrique Cardoso e o próprio Serra antes de recolher assinaturas para se credenciar às prévias. Ouviu de ambos palabras de estímulo. Declara que o cancelamento das prévias seria "um desastre".

Esteve com o governador Geraldo Alckmin na terça-feira de Carnaval. "O que ele me disse é que, se o Serra tiver interesse, vai ter que procurar os quatro pré-candidatos. A mim o Serra não procurou." Vai abaixo a entrevista:

Por que as prévias do PSDB viraram um drama? Só será um drama se eu não vencer as prévias.

– Não receia que o drama vire comédia? A comédia só vai acontecer se nós retroagirmos. Algo que não creio que vá ocorrer. O processo está consolidado.

– Está mesmo convencido de que as prévias estão consolidadas? Hoje mais do que nunca. Fui o primeiro a protocolar o pedido. Foi há sete meses, em 3 de julho, no diretório estadual. O documento tem 220 assinaturas de delegados à convenção, de um total de 1.200 que temos na capital. Desde então, visitei 58 diretórios zonais do partido.

– Sente que há boa recepção? Eu tinha dito ao presidente Fernando Henrique: ou a gente tira o pó do PSDB ou ele não vai andar. A distância entre a cúpula do partido e a militância se tornou tão grande que se abriu um fosso. A gente precisa preencher esse espaço. Ele me estimulou. Disse: 'vá em frente, você tem toda razão.' Fui ao Serra e ouvi dele as mesmas palavras de estímulo.

– Essa conversa com o Serra é recente? Já tem uns quatro meses. Mas depois disso já me encontrei com ele.

– Como foi? Nós sofremos de um mesmo problema crônico. Somos palmeirenses convictos. Encontrei com ele num desses jogos do Palmeiras. Ele me perguntou como estava indo o processo das prévias. Respondi que caminhava bem. E ele: 'que bom, Trípoli, vai firme'. Nunca me disse nada em contrário. Não tenho razões para desconfiar da palavra dele.

– E se ele tiver mudado de ideia? Acho que seria muito frustrante, a essa altura, chegar para o militante e dizer: olha, as prévias não vão mais ocorrer. Não tem clima pra isso. O Serra, que é uma das maiores lideranças que temos no partido, jamais tomaria a atitude de pedir para interromper as prévias. Não faz sentido.

– Mantidas as prévias, será escolhido um candidato em 4 de março. O indicado pode renunciar em favor do Serra? Posso falar por mim. Se vencer, eu não me retiro. Assumi compromisso com muita gente. Não posso frustrar todo mundo.

– Não o sensibiliza o fato de o Serra estar mais bem posto nas pesquisas? Se fôssemos pensar assim, não haveria sentido em existir o partido. O Geraldo Alckmin, quando foi candidato a prefeito pela primeira vez, eu estava com ele, não ganhou as eleições. Mas ele se projetou para vitórias futuras. Vamos falar francamente. Se fosse para raciocinar assim, então teríamos de pegar o Fernando Henrique, que é o professor de todos nós. Isso não faz sentido. A dinâmica do partido tem de ser outra. É preciso buscar a pluralidade.

– Permita-me insistir, fazendo o papel de advogado do diabo: o Serra teria mais chances de êxito, não? Não se pode trabalhar com a tese de que, numa cidade como São Paulo, o PSDB só tenha um ou dois nomes que possam disputar eleições majoritárias. Veja o caso dos EUA. Se o Partido Democrata pensasse assim, o Barack Obama não seria presidente. Na comparação do Obama com a Hillary Clinton, teria prevalecido o argumento de que a Hillary tinha muito mais densidade e maior taxa de conhecimento. O Obama, até então, ninguém sabia quem era. Nem por isso deixou de virar presidente dos EUA.

– Acha que pode sair um Obama das prévias do PSDB? Não quero me comparar ao Obama, não tenho essa pretensão. O que digo é que o PSDB precisa modificar seus métodos. As prévias prestam um grande serviço nessa direção.

– O noticiário sobre a possibilidade de Serra tornar-se candidato o incomoda? Desde o início que eu ouço essa mesma história. Nunca vi uma declaração do Serra dizendo que seria candidato. O que há é especulação. Uns atribuem à mídia, outros ao PT. Há quem atribua ao próprio PSDB. Até em respeito às pessoas que assinaram o documento em meu nome, não posso me retirar. A candidatura nem me pertence mais. Pertence às pessoas que subscreveram o documento.

– Não lhe parece que a mídia e o PT são meros expectadores de um movimento que ocorre dentro do PSDB? Veja o caso do [José Henrique Reis] Lobo, que escreveu artigo na Folha [defendendo a opção por Serra]. Qual é o peso do Lobo hoje no partido? Nenhum. É um ex-presidente do diretório municipal que não tem peso nenhum.

E quanto ao governador Alckmin? Ele já declarou em público que o Serra, se quiser ser candidato, é um nome importante e será considerado. Estive com o governador na terça-feira. O que ele me disse é que, se o Serra tiver interesse, vai ter que procurar os quatro pré-candidatos. A mim o Serra não procurou. Portanto, não posso levar essa hipótese em consideração. Conosco vai acontecer o contrário do que ocorreu com o PT. Eles contavam com as prévias e não fizeram. As nossas prévias, que ninguém esperava que fossem acontecer, vão ser realizadas. Será um susto ao contrário. Nem o PSDB acreditava que essas prévias pudessem acontecer. Isso deu vida ao partido.

– Como assim? Se o processo for até o final –e estou convencido de que irá— ele dará novo alento ao partido. Não estou desmerecendo a figura do Serra. É meu amigo, considero uma das melhores figuras do partido. O importante é que, presenvando-se o processo de São Paulo, vai ficar demonstrado que o PSDB passa a ter uma conduta diferente.

– Refere-se à conduta em que prevalecem as decisões de cúpula? Exatamente. São Paulo sinalizará uma mudança para o partido em nível nacional. Essas encrencas como a disputa entre Serra e Aécio [Neves pela vaga de presideinciável], que infernizam a vida do partido, passam a ter um tratamento diferente. Outro dia tivemos uma reunião da bancada federal. E um deputado do Rio Grande do Sul estava irado. Ele dizia: por que tenho que optar entre um e outro? Creio que esse processo de São Paulo vai acabar se alastrando para o Brasil inteiro. Onde houver mais de um candidato –para o Senado, para os governos, para as prefeituras e até para presidente— deve-se ouvir o partido para tomar uma decisão. É preciso valorizar os filiados militantes.

– Que efeitos imagina que o eventual cancelamento das prévias produziria? Seria um desastre. Haveria uma reação muito forte. Teremos 58 locais de votação. Cada diretório vai ter uma urna eletrônica. Isso sinaliza para o militante que estamos valorizando a opinião dele. Um recuo levaria à frustração. Em entrevistas que deu há muitos anos, Fernando Henrique já dizia que nós tínhamos que nos reaproximar da militância, dos filiados. O partido só agora está acordando para isso. Não faz sentido recuar.

– Não receia que, sem o Serra, os partidos olhem para as pesquisas e fujam de formar uma coligação com o PSDB? Pesquisa é fotografia de momento. Seja qual for o candidato do PSDB, na hora em que o nome estiver escolhido, arranca com 10%, 12%. Isso com base apenas na força do partido. O resto virá com o desempenho do candidato. Não creio que isso afugente os alidos. Em São Paulo, teremos uma polarização entre PT e PSDB. Não há espaço para outras candidaturas. Há três máquinas: a do governo federal, a do governo estadual e a da prefeitura, que pode ir para um lado ou para o outro. Boa parte das pessoas que estão na máquina da prefeitura é do PSDB. Os partidos vão acabar se aglutinando, no primeiro ou no segundo turno, em torno desses dois partidos.

– A pesquisa, de fato, é retrato do momento. Mas, considerando-se esse retrato, fica evidente que, optando por um dos quatro pré-candidatos às prévias, o PSDB dependerá de uma coligação que assegure tempo de tevê, não? Sem dúvida nenhuma. Mas é preciso considerar que o [Fernando] Haddad enfrenta a mesma dificuldade. Com toda a exposição que teve no Ministério da Educação, nos mandatos do Lula e da Dilma, ele aparece na pesquisa com 5%, 6%. É um caminhão pesado para carregar. Nós teremos tempo de televisão, não tenho dúvida. Somado-se a isso o desempenho do candidato e a estrutura do partido, daremos uma arrancada.

– O caminhão de Fernando Haddad, 'pesado' segundo suas palavras, será puxado pelo Lula. Não acha que pode ganhar velocidade? São Paulo é diferente. Aqui não tem esse coisa de dizer que o meu candidato é fulano de tal e está eleito. O Fernando Henrique derrotou o Lula duas vezes no primeiro turno. O PT sempre teve dificuldades em São Paulo. Aqui, essa coisa de transferir prestígio não é algo automático. E esse tipo de fenômeno não costuma se repetir várias vezes. Não é porque deu certo com a Dilma que vai funcionar aqui em São Paulo com o Haddad. Isso não me assusta nem um pouco.

– Há favoritos às previas? Todos vão te dizer que estão bem e que vão ganhar. Isso faz parte do processo. Mas não há nenhuma pesquisa. É a primeira vez que a gente faz esse tipo de disputa. De um total de 18 mil filiados na capital, creio que vão votar entre 5 mil e 6 mil.

– Quanto o partido já gastou na organização das prévias? Nós acabamos investindo dinheiro do próprio bolso, algo em torno de R$ 120 mil no total.

– Não tem verba do fundo partidário? Ainda não. Parece que vão liberar agora a primeira parcela: R$ 25 mil para cada um dos quatro pré-candidatos. O que vai dar um total de R$ 100 mil. Até por essa razão o processo não pode ser interrompido.

– Suponha que todo mundo resolva se retirar da disputa e que sobre apenas Ricardo Tripoli. Se lhe pedirem para abrir mão da candidatura em favor do Serra sua resposta será não? Meu nome será mantido até o final. Não vou me retirar da disputa.

– Mesmo se ficar Serra de um lado e Tripoli do outro? Pode me cobrar depois. Não retiro. O Serra não se inscreveu para as prévias. Mas seria uma disputa saudável. Dois palmeirenses. Outro dia encontrei o Aldo Rebelo [deputado licenciado, hoje Ministro dos Esportes]. Ele foi relator do Código Florestal na Câmara. Eu disse pra ele: Aldo, entre nós, de verde só sobrou o Palmeiras.

– Na sua relação com o Serra, de verde também só sobrou o Palmeiras? Não, não. Eu me dou muito bem com ele. Embora o Andrea Matarazzo seja mais próximo do Serra, eu não tenho nenhum problema com ele. A gente sempre se deu muito bem. Ele sempre me liga. Liga às duas da manhã, três da manhã. Mas liga.

– Ele tem lhe telefonado ultimamente? Não, agora ele está quietinho. Faz uns dois meses que não falo com ele. Está em processo de imersão. É bom deixar ele quietinho. Não creio que ele seja candidato.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.