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Josias de Souza

Aliado de Temer acusa Dilma: troca da Pesca foi ‘uso descarado da máquina' em favor de Haddad

Josias de Souza

01/03/2012 16h43

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um evangélico de resultados que integra o grupo político do vice-presidente Michel Temer, manifestou-se no twitter sobre a conversão de Marcelo Crivella (PRB-RJ), seu irmão em Cristo, de senador em ministro da Pesca.

Auxiliares de Dilma Rousseff venderam a novidade como um mimo da presidente à turma da Bíblia. Estabeleceu-se "uma grande confusão", escreveu Cunha. "Isso não tem nada a ver com agradar os evangélicos".

Trata-se, na opinião do deputado, de "acomodação para ter o apoio" do PRB, o partido de Crivella, "ao candidato do PT em São Paulo", Fernando Haddad. Em português claro: "Tiraram o [Celso] Russomano da eleição".

Em linguagem ainda mais explícita: duas semanas depois de alardear que a estrutura de seu governo não seria arrastada para os palanques, Dilma fez o que Cunha chama "uso descarado da máquina a serviço de uma candidatura."

O aliado de Temer acha "justo" que o PRB de Crivela, por governista, "participe do governo". Mas Cunha, que costuma manter um olho no gato e outro no peixe, reassalva: "Fazer isso agora, dessa maneira, não pega bem."

O deputado receia que o apoio de Brasília ao projeto do PT em São Paulo acabe por inspirar na caneta de Dilma gestos mais ousados: "Daqui a pouco vão nomear o Tiririca [PR] para tirar ele da eleição, além do Netinho [PCdoB] e outros candidatos."

Onde se lê "outros candidatos" leia-se Grabriel Chalita, o deputado federal que representa o PMDB de Michel Temer e de Eduardo Cunha na disputa pela prefeitura da capital de São Paulo.

Afora os objetivos eleitorais, Cunha parece enxergar pouca serventia na nomeação do irmão Crivela. "Achar que os evangélicos vão ficar satisfeitos porque tem um deles no governo, comandando o inexpressivo Ministério da Pesca, e risível", ele escreveu. "Só se fosse o ministério da pesca de almas."

Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, Crivella reconhece que entende mais de almas do que de peixes. "Não sei colocar uma minhoca no anzol." Confessa-se, porém, disposto a "aprender."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.