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Josias de Souza

Dilma viaja a São Bernardo para encontrar Lula

Josias de Souza

01/03/2012 19h47

Dilma Rousseff voou na surdina de Brasília para São Paulo. Decolou por volta de 13h. A bandeira presidencial, hasteada sempre que a presidente se encontra no Planalto, continuou tremulando no mastro, como se ela não tivesse se ausentado.

Só depois de decorridas mais de quatro horas da decolagem a assessoria da Presidência confirmou a viagem. Àquela altura, Dilma já se encontrava no apartamento de Lula, na cidade de São Bernardo do Campo. Conversaram por cerca de três horas.

O encontro com o ex-soberano não constava da agenda de Dilma. O tema da conversa não foi revelado. Não é preciso ser adivinho, porém, para intuir que devem ter trocado ideias sobre três temas: eleições, eleições e eleições.

Patrono e articulador da candidatura do petê Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, Lula angustia-se com a demora na formação de uma coligação para seu pupilo. Por ora, o PT não logrou atrair um mísero aliado.

Lula jogara suas fichas numa parceria com o PSD de Gilberto Kassab. Achava que, com ele, viriam outros, quase por gravidade: PR, PCdoB, PV, PSB… Sobreveio a candidatura tucana de José Serra. E Kassab roeu a corda que jogara para Lula.

As articulações de São Paulo, que já faziam escala em Brasília, passaram a depender de Dilma. O principal lance envolve a devolução do Ministério dos Transportes para o PR. Dilma sempre resistiu.

Nas últimas horas, a presidente passou a tratar a demanda do partido presidido pelo ex-ministro Alfredo Nascimento com uma inédita dose de compreensão. Quem ouve Dilma conclui que ela está a um passo de ceder.

Empurrado para fora dos Transportes pela avalanche de denúncias que se abateu sobre a pasta, o senador Nascimento (AM) já avisou: sem cargos, o seu PR passa a enxergar as composições municipais com outros olhos: "A careca do Serra é linda".

É contra esse pano de fundo envenenado que ocorre a conversa de Dilma com Lula. Dependendo do modo como manusear a caneta nos próximos dias, a presidente pode transformar em lorota a pregação segundo a qual a máquina federal ficará fora dos palanques municipais.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.