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Josias de Souza

Temer avisa a Dilma que, sem diálogo, governo será ‘derrotado’ na votação do Código Florestal

Josias de Souza

09/03/2012 04h56

Dilma Rousseff teve uma longa conversa com seu vice, Michel Temer, nesta quinta-feira (8). Reuniram-se sob os efeitos do curto-circuito que ameaça eletrocutar as relações do governo com os partidos que integram seu condomínio.

A certa altura, falaram sobre o Código Florestal, uma nova encrenca esperando para acontecer na Câmara. Temer avisou a Dilma que o governo sofrerá nova derrota legislativa caso não aceite negociar.

Na véspera, Temer recebera no gabinete da vice-presidência deputados do seu PMDB e de outros partidos. Entre eles PP, PR, PDT, PCdoB e PSB. Recolhera da conversa impressões que compõem um cenário de borrasca.

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Os deputados querem alterar trechos do Código Florestal aprovado no Senado. Desejam restituir parte do texto que a Câmara aprovara numa primeira votação, realizada no ano passado.

O problema é que a ministra Ideli Salvatti, coordenadora política de Dilma, diz aos aliados que o governo não aceita modificar o projeto. Considera que a versão saída do Senado corrigiu equívocos que os deputados haviam injetado no código.

Em privado, Ideli chegou a declarar que o Planalto prefere não votar a proposta a vê-la modificada. Que ouve a ministra entende que ela apenas ecoa ordens da presidente. Determinações que a maioria dos deputados não se dispõe a acatar.

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Chegou-se à seguinte situação: se insistir na ideia de manter intacto o texto do Senado, o governo será derrotado na Câmara. Se tentar impedir a votação, os partidos promoverão uma obstrução coletiva que pode paralisar o plenário.

Nessa hipótese, subiria no telhado, junto com o Código Florestal, a Lei Geral da Copa, outra matéria que Dilma considera prioritária. Para evitar o desastre, não restaria ao governo senão sentar-se à mesa de negociação.

Embora não pareça convencida, Dilma ficou de conversar com o ministro Mendes Ribeiro (Agricultura). Deputado licenciado do PMDB gaúcho, Mendes encontrava-se na Câmara quando foi votado o Código Florestal.

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O agora ministro votou a favor da versão que deixou Dilma tão irritada a ponto de ameaçar de demissão Wagner Rossi, o apadrinhado de Temer que antecedeu Mendes Ribeiro na pasta da Agricultura.

Nessa época, a aversão de Dilma foi potencializada por novidades introduzidas no texto por meio de emenda patrocinada pelo PMDB –a emenda 164. Entre outras coisas, previa a anistia às multas impostas pelo Ibama a desmatadores.

Adensado por essa emenda tida por Dilma como tóxica, o projeto da Câmara foi aprovado por uma sonora maioria: 410 a 63. Agora, essa mesma tropa se reaglutina para restituir parte da proposta original, derrubando artigos introduzidos no Senado.

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O receio de Dilma é o de que os deputados produzam um Código Florestal que, rendido aos interesses ruralistas, leve o Brasil a passar um vexame planetário na conferência ambiental Rio+20, que ocorrerá daqui a três meses.

Endossados por Temer, os deputados sustentam que vergonha maior será a incapacidade de negociar um meio-termo que combine os valores ambientais aos negócios do campo, que vêm segurando o PIB brasileiro.

O Código Florestal deveria ter sido votado nesta semana. O dissenso levou o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a protelar a deliberação sobre o projeto para a próxima terça-feira (13).

Até lá, espera-se que Dilma se mostre maleável ao entendimento. Deseja-se que a presidente evolua para uma posição que possa converter o governo de derrotado em coautor de uma fórmula negociada.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.