Para Dilma, opinião pública apoia endurecimento com partidos e rejeita a ‘chantagem’ parlamentar
Dilma Rousseff move-se no Congresso de olho nas ruas. Testa os limites dos partidos que apoiam o governo embalada pela avaliação de que a sociedade gosta do que vê.
O blog conversou na noite desta quinta (15) com um senador que atua na crise como bombeiro. Com acesso ao Planalto, teve a oportunidade de analisar a conjuntura política num encontro com Dilma.
Resumiu assim o ponto de vista que vigora na sede do governo: "As impressões que são recolhidas indicam que há uma safisfação de expressiva parcela da sociedade com as posições de Dilma, com o jeito dela de governar."
Deu um exemplo: "Quando a presidente diz 'não' ao PR e o partido reage com rompimento e ameaças, as pessoas aplaudem. Acham que ela está certa, que deve mesmo reagir aos desaforos e não ceder à chantagem."
Numa das conversas, Dilma foi aconselhada a ajustar os meios sem abrir mão dos fins. Pode priorizar o asfalto, mas não convém negligenciar os tapetes do Congresso. Alega-se que é possível fazer as duas coisas –bater e soprar.
A tática é escorada em apostas arriscadas. Por exemplo: Dilma mandou dizer ao PR que não negocia sob ameaças. Imagina-se que o partido, sem vocação oposicionista, não levará o anunciado "rompimento" às últimas consequências.
Outro exemplo: Dilma não ignorava que José Sarney e Renan Calheiros reagiriam mal à troca de Romero Jucá por Eduardo Braga na liderança do governo no Senado. Ainda assim, optou pelo 'vai ou racha'.
Avalia-se que, rachando, Renan não arrasta consigo a solidariedade de mais do que oito dos 18 senadores da bancada do PMDB no Senado. Dilma aparelha-se para uma disputa que ocorrerá em fevereiro de 2013: a briga pela cadeira de Sarney.
A presidente não quer que Renan substitua Sarney. Em diálogo privado com o próprio senador, insinuou que ele talvez devesse concentrar suas energias no projeto de tornar-se governador de Alagoas.
Como alternativa a Renan, Dilma esgrime o nome de Edison Lobão. Aqui, outra aposta: acha que, apoiando Lobão, afasta Sarney de Renan. Pode não ser bem assim. Senador licenciado, Lobão ocupa o Ministério de Minas e Energia como preposto do seu padrinho.
A turma de Sarney começa a ruminar uma suspeita: Dilma desejaria empurrar Lobão para a presidência do Senado apenas para livrar os negócios do setor elétrico da influência de Sarney.
O grupo que ainda usufrui do privilégio de virar a maçaneta da sala de Dilma prefere que ela não antecipe para agora uma briga de 2013. Há dois dias, a propósito, a ministra Ideli Salvatti moveu-se para tentar dissolver uma encrenca que se formava na Câmara.
Por ordem de Dilma, Ideli tocou o telefone para o vice-presidente Michel Temer. Disse-lhe que a acomodação de Arlindo Chinaglia (PT-SP) na liderança do governo na Câmara em nada afetava o acordo firmado pelo PMDB com o PT.
Esse acordo, de papel passado, prevê o rodízio das duas legendas na presidência da Câmara. Primeiro Marco Maia (PT). A partir de fevereiro de 2013, quem o PMDB indicar. Temer trabalha por Henrique Eduardo Alves. "Nada muda", disse Ideli.
De resto, Dilma e Cia. imaginam que o momento seja propício ao "freio de arrumação". No Senado, há poucas matérias relevantes por votar. Na Câmara, há a Lei Geral da Copa e o Código Florestal.
Trabalha-se com a perspectiva de derrota. Mas o infortúnio já estava desenhado antes dos últimos embates de Dilma com seu condomónio. A presidente tenta postergar as votações até que o veneno da crise atual de dissolva. Os deputados cogitam votar à revelia do Planalto. Dependendo do que vier, Dilma pode vetar.
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