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Josias de Souza

Eduardo Braga, novo líder de Dilma no Senado: ‘Chegou a hora de enfrentar as antigas práticas’

Josias de Souza

17/03/2012 04h01

Vários aliados de Dilma Rousseff no Congresso foram ao final de semana com a disposição de beber para esquecer a turbulência dos últimos dias. Quando lerem as últimas palavras do senador Eduardo Braga (PMDB-AM) talvez concluam que só ficarão realizados no dia em que não lembrarem mais para que é que bebem.

Novo líder de Dilma no Senado, Braga falou ao Globo. A certa altura, declarou: "A verdade é que o Brasil vem passando por uma transformação econômica e social, mas ainda não tinha feito o enfrentamento das antigas práticas políticas." Ingagou-se ao substituto de Romero Jucá (PMDB-RR) se Dilma fará esse "enfrentamento".

E Braga: "Ela tem demonstrado isso claramente, primeiro não sendo conivente com o malfeito. A interlocução com a classe política também tem que passar por essa transformação. Um novo Brasil está surgindo e precisa passar por enfrentamentos que a nação sempre reclamou. A presidente acha que chegou a hora."

Recordou-se ao líder que, considerando-se o perfil do consórcio governista, o processo não haverá de ser pacífico. Ecoando algo que já fora noticiado aqui, Braga deixou claro que a presidente da República move-se olhando para fora do Congresso. Almeja o apoio da sociedade.

"Se eu entendo alguma coisa de opinião pública, acho que uma das coisas que mais fortalecem e agregam valor ao governo da presidente Dilma é exatamente essa postura que ela vem adotando. Na matemática do apoio, democracia é movida pelas maiorias. E quanto mais qualificada, melhor."

E quanto a Lula, responsável pela montagem do condomínio fisiológico pelo qual Dilma se elegeu em 2010? "Ele me deu um apoio pessoal extraordinário. Quando a presidente me convidou, ele me telefonou e disse: 'conte comigo'. Ele acha que a presidente Dilma está absolutamente certa, está nos apoiando e se colocou à nossa disposição." Braga esteve com Lula, nesta sexta (16), em São Paulo.

Há dois dias, em aparte a um discurso do líder destituído Romero Jucá, Fernando Collor (PTB-AL) recordou o impeachment que o apeou da Presidência para realçar os riscos que Dilma corre ao provocar "azedume" no Legislativo. Eduardo Braga deu de ombros para o alerta. Mais que isso: tachou o comentário de, "no mínimo, infeliz".

"Não enxergo com base em quê isso possa fazer algum sentido. Na base aliada do Senado, por exemplo, há pessoas extremamente comprometidas com as boas práticas republicanas. É preciso fortalecer a interlocução com essas pessoas. Tem Pedro Taques [PDT-MT], Pedro Simon [PMDB-RS], Cristovam Buarque [PDT-DF], Ana Amélia [PP-RS], Jarbas Vasconcelos [PMDB-PE]…"

Os cinco senadores citados por Braga, embora filiados a legendas governistas, mantêm-se à margem das articulações oficiais, ostentando no Senado uma posição de "independência". Tomado pelas palavras, o novo líder imagina-se capaz de integrá-los ao consórcio.

"O que quero dizer é que estamos num processo de ampliação dessa interlocução. Não estou excluindo ninguém. Estou dizendo que há agora uma nova prática, um novo modelo. Quero incluir todos esses que citei nas discussões e formulações do governo."

Mas até Jarbas Vasconcelos, eleitor de José Serra na sucessão de 2010? "O Jarbas é um grande quadro da política brasileira e do PMDB. […] Conversei longamente com ele por telefone e ele me disse: 'Eduardo, conte comigo porque sei o tamanho da sua luta e como está bem intencionado'. A presidente Dilma quer uma interlocução ampliada e vai mostrar isso com atos."

O PR, cuja bancada de sete senadores declarou-se "rompida" com o governo, condiciona a restituição do apoio à devolução do Ministério dos Transportes. Que fazer? "Desse jeito, não vai!", diz Braga. "Vamos deixar quieto. Eles têm que compreender que desse jeito não funciona. Chega um determinado momento que é melhor deixar como está e vamos ver."

As reações serão grandes. Vai mesmo segurar o touro à unha? "Estou com vontade, viu? Se não me cortarem as mãos antes…" Quem cortaria, o Renan Calheiros, líder do PMDB? "Tem várias forças ocultas e semiocultas nesse processo, né?" Perguntou-se ao líder de Dilma se não receia sofrer boicotes.

Braga invocou o Padre Eterno: "Eu não tenho a menor dúvida, mas Deus é maior que tudo isso, ué! É uma boa luta e estou disposto a enfrentar os desafios. E falar em coragem com Dilma é brincadeira! Poucas pessoas são tão corajosas quanto ela." Torça-se para que o Todo-Poderoso ajude. Sem Ele, sera difícil.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.