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Josias de Souza

Aliança de governistas rebelados com oposição para Câmara e impede votação da Lei da Copa

Josias de Souza

21/03/2012 17h38

O Planalto decidiu testar a amplitude da rebeldia do seu conglomerado na Câmara. Tentou votar o projeto da Lei Geral da Copa. Não conseguiu. Governistas rebelados juntaram-se à oposição e paralisaram o plenário. A obstrução coletiva forçou o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), a derrubar a sessão.

Antes de deliberar sobre a proposta da Copa, os insurretos exigem que seja marcada a data de votação de outro projeto espinhoso: o Código Florestal. Juntaram-se à obstrução a maioria dos partidos governistas –do PMDB ao PDT, passando pelo PSD de Gilberto Kassab. Entre os que queriam votar, apenas o PT, PSB e PP.

Foi a voto um requerimento da oposição que pedia que o projeto da copa fosse retirado da pauta. Rendido às evidências, o líder de Dilma Rousseff na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), liberou as legendas do condomínio governista para votarem como desejassem.

Apurados os votos, não foi atingido no painel o quórum mínimo de 157 deputados exigido para o prosseguimento da sessão. Prevaleceu a obstrução. Embora o plenário estivesse cheio, os deputados fugiram do painel, impondo ao governo uma derrota constrangedora.

Ficou evidente que, se não marcar uma data para a votação do Código Florestal, o Planalto não arrancará da Câmara uma decisão sobre a Lei Geral da Copa.

Conforme já noticiado aqui, a maioria governista dissolveu-se no debate sobre o Código Florestal. Nessa matéria, sumiu a lógica que costuma acomodar as bancadas do governo de um lado e as da oposição de outro. Sozinhos, os oposisionistas PSDB, DEM e PPS seriam esmagados, como de hábito.

O problema é que, trincado, o Planalto não teve como passar o trator. Os agrodeputados, um contingente estimado em mais de 220 votos, espraiam-se por todas as legendas, inclusive as governistas. A divisão da tropa de Dilma ficou especialmente evidenciada nas manifestações dos líderes dos dois maiores partidos do condomínio.

Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB, associou-se à paralisia: "A lei da Copa é importantíssima. Mas tenho que me curvar à maioria da minha bancada, que tem posições diferentes. Para não radicalizar, para abrir espaço de negociação, para ajudar o nosso governo, o PMDB entra em obstrução."

Jilmar Tatto (SP), líder do PT, discursou em sentido oposto: "O que está acontecendo neste plenário é inadmissível. Recusa-se a discussão de um compromisso que o governo assumiu com a Fifa. […] O que os ruralistas, predadores ambientais com representação nesta Casa, estão querendo é atrapalhar o cronograma da Copa."

Tatto chamou o bloco governista à "responsabilidade". Ao tachar os ruralistas de "predadores ambientais" obteve o oposto. O PR, que não havia aderido à "obstrução", mudou de posição. "Faltou tato ao líder do PT", justificou o líder da legenda.

No comando da bancada do PSOL, o ex-petista Chico Alencar (RJ) resumiu a cena: "A situação está de vaca desconhecer bezerro. A base do governo chega aqui e diz que o líder Tatto não teve tato. Para nós, ele falou com clareza. Não podemos permitir a decepação das regras ambientais do Brasil. No mais, a lei da Copa parece que foi reduzida a lei do copo. Só se discute a liberação de bebida nos jogos."

Líder do DEM, o deputado ACM Neto (BA) emoldurou o quadro: "O governo derrotou o governo. Na base da imposição, não se chega a lugar nenhum". De fato, ficou evidente: ou o governo lambe suas feridas e recosta os cotovelos sobre a mesa de negociação ou arrisca-se a não sair do lugar. Negociando, pode apressar a aprovação da Lei da Copa. Quanto ao Código Florestal, tornou-se uma derrota esperando para acontecer.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.