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Josias de Souza

Para colegas do DEM, renúncia ao mandato é o único caminho que restou a Demóstenes Torres

Josias de Souza

29/03/2012 05h27

O futuro político de Demóstenes Torres é considerado sombrio pelos próprios companheiros de partido do senador. Dissemina-se no DEM a avaliação de que Demóstenes tornou-se uma cassação esperando para acontecer.

O blog conversou com três partidários de Demóstenes (DEM-GO). Para evitar constrangimentos, pediram anonimato. Expressaram uma mesma opinião. Acham que não resta ao colega senão a opção de renunciar ao mandato de senador.

Avaliam que, permanecendo no Senado, Demóstenes apenas prolongará o suplício, expondo-se a um processo desgastante e inútil. Afora a cassação, tida como inevitável, prevê-se que o senador será desligado da tomada do DEM.

"O partido terá de expulsá-lo, sob pena de se desmoralizar", disse um dos entrevistados. "Se o Demóstenes não renunciar, vai ter de se humilhar perante senadores que criticou. Gente como o Sarney e o Renan", disse outro.

Demóstenes foi implacável com José Sarney e Renan Calheiros nas crises que tisnaram as presidências de ambos no Senado. Cobrou o afastamento de Sarney em 2009. E o de Renan em 2007.

Em privado, Demóstenes admite que se tornou um cadáver político. Paradoxalmente, resiste à ideia de renunciar. Por ora, não admite nem mesmo a alternativa de um pedido de licença.

Seu quadro, que já era grave, tornou-se ainda mais hemorrágico na noite passada. Em reportagem levada ao ar pelo Jornal Nacional, revelaram-se novos indícios de que a relação de Demóstenes com o contraventor Carlinhos Cachoeira ultrapassa as fronteiras da "amizade" admitida pelo senador.

Escutas telefônicas realizadas pela Policia Federal fazem picadinho do discurso em que Demóstenes dissera, no dia 6 de março, que não tinha conhecimento dos negócios ilícitos do "amigo" que o presenteara com uma geladeira e um fogão importados.

Vieram à luz conversas de Cachoeira com Geovani Pereira da Silva e Cláudio Abreu. O primeiro é identificado pela Polícia Federal como contador da quadrilha. O segundo, como sócio dos negócios ilegais do contraventor.

De acordo com o conteúdo dos grampos, os três discutem a contabilidade da quadrilha. Mencionam cifras milionárias. Em cinco minutos de diálogos, o nome de Demóstenes soa seis vezes.

Num trecho, Cachoeira indaga a Cláudio Abreu quanto ele, Cachoeira, reteve. Um milhão do Demóstenes, responde o sócio. O amigo tóxico do senador, preso no mês passado, prossegue.

Referindo-se reiteradamente a Demóstenes, Cachoeira empilha cifras. Ao final, fecha a conta: um milhão e quinhentos, mais seiscentos, que dariam dois e cem. E mais um milhão. Total: "três e cem."

Cláudio Abreu atalha Cachoeira, como se discordasse dele. Menciona a expressão "este do Demóstenes". Diz que o valor já tinha sido mostrado a ele e que Cachoeira vinha segurando o montante desde a época em que o senador foi eleito.

Impossível atestar, a partir dos grampos, como foi aplicado cada centavo mencionado. Mas a menção do nome de Demóstenes em meio a diálogos vadios e a cifras de má origem eleva a temperatura da fornalha.

No campo jurídico, dá-se de barato que o pedido de investigação feito pelo procurador-geral Roberto Gurgel ao STF será acatado pelo ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso.

Na seara política, avalia-se que a encrenca pode ter um desfecho antes mesmo da conclusão do processo judicial. Nesta quarta (27), o PSOL requereu à Mesa diretora do Senado que Demóstenes seja levado ao Conselho de Ética.

"O tempo da política corre mais rápido que o relógio da Justiça", disse um dos colegas de Demóstenes ouvidos pelo repórter. Preside a Mesa do Senado José Sarney (PMDB-AP). Integra o Conselho de Ética Renan Calheiros (PMDB-AL).

Conforme já mencionado aqui, Demóstenes migrou, em três meses, da condição de potencial candidato do DEM à Presidência da República para a de pré-candidato a réu num processo do Supremo.

A cada novo grampo revelado, aprofunda-se o abismo que se abriu entre os valores professados por Demóstenes e a prática do ex-Demóstenes esboçado nos relatórios da Polícia Federal.

Procurado, o senador absteve-se de comentar a notícia do Jornal Nacional. Em ofício enviado a Sarney na terça (27), informara que só daria novas explicações depois de conhecer a íntegra dos inquéritos que o mencionam.

Ouvido, Antonio Carlos de Almeida Castro, advogado de Demóstenes, expressou-se assim: "Ele está, evidentemente, preocupado com essas gravações negativas à sua imagem. Mas no tocante à pessoa jurídica estamos muito tranquilos."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.