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Josias de Souza

CPI do Cachoeira já tem 163 requerimentos de convocação de depoentes e quebras de sigilos

Josias de Souza

26/04/2012 06h01

A CPI do Cachoeira mal foi instalada e já acumula 163 requerimentos, entre convocações de depoentes, quebras de sigilos fiscais e bancários e telefônicos e requisições de documentos sigilosos.

O DEM é o campeão de requisições –33 no total. Pede, por exemplo, a convocação e a quebra dos sigilos das contas e do IR de Fernando Cavendish e Cláudio Abreu. O primeiro é sócio majoritário da Delta Construções (42%).

O segundo era diretor da empreiteira até a deflagração da Operação Monte Carlo, em fevereiro. Desligado da empresa por conta de sua vinculação com Carlinhos Cachoeira, Cláudio Abreu estava foragido. Foi preso pela PF nesta quarta (26).

Como que decidido em converter a CPI num estorvo para o governo, o DEM também requereu a convocação de Luiz Antonio Pagot, o ex-diretor que Dilma Rousseff mandou afastar do Dnit (Transportes), no ano passado, por suspeita de corrupção.

Em entrevistas concedidas na semana passada, Pagot atribuiu sua demissão a pressões da Delta, cujos interesses ele diz ter contrariado no Dnit, órgão que concentra a maioria dos contratos da construtora número um do PAC.

De resto, o DEM pede que Carlinhos Cachoeira seja convocado para depor imediatamente. Para desassossego do PT, a tribo 'demo' requer também que seja levado ao banco da CPI Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil de Lula, na época em que a pasta era gerida por José Dirceu (PT-SP).

Waldomiro tornou-se figura nacional em 2004, quando Cachoeira levou às manchetes uma autofilmagem. Na fita, gravada em 2002, Waldomiro, então presidente da Loterj (loterias do Rio), aparece achacando o bicheiro.

Todos os requerimentos terão de passar pelo crivo da CPI, um colegiado em que o governo controla 65% dos votos. Relator da comissão, Odair Cunha (PT-MG) não parece propenso a votar nada antes de apapar os inquéritos da PF sobre Cachoeira: operações Vegas e Monte Carlo.

Fernando Collor, que ocupa na CPI um assento do PTB, pediu a convocação do procurador-geral da República Roberto Gurgel. O PSDB, antecipando-se aos rivais, incluiu entre seus requerimentos a convocação do governador tucano de Goiás, Marconi Perillo. De quebra, pede o comparecimento de Agnelo Queiroz, o petista que governa Brasília.

Líder do PPS, Rubens Bueno (PR) requereu que seja chamado à CPI até o ministro da Justiça, o petista José Eduardo Cardozo, superior hierárquico da Polícia Federal.

No comando dos trabalhos, o presidente Vital do Rêgo (PMDB-PB) e o relator Odair Cunha não permitiram na sessão inaugural da CPI senão a votação de um par de requerimentos. Aprovados sem questionamentos, pedem ao STF que envie à CPI cópias dos inquéritos sobre Cachoeira que correm no tribunal.

Marcou-se nova sessão para a próxima quarta-feira (2). Nessa reunião, Odair Cunha apresentará o seu plano de trabalho. A dependender da sua vontade, vai-se priorizar a análise do papelório das operações Vegas e Monte Carlo.

A oposição acha que, sem prejuízo de que os inquéritos sejam varejados, deve-se iniciar logo o ciclo de inquirições e quebras de sigilos. O relator dá de ombros. Odair refugou também uma sugestão do deputado tucano Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Sampaio propôs a criação de sub-relatorias setoriais, como ocorreu noutras CPIs. Para ele, seria uma forma de agilizar o trabalho, descentralizando-o. Para Odair, uma maneira de esvaziar o relator e facilitar o vazamento de dados sigilosos.

Iniciado já na etapa da definição do método de trabalho, o dissenso tende a se acentuar na hora em que os membros da CPI tiverem de analisar o mérito de cada requerimento. A batalha está apenas no começo. Prevista para durar seis meses, a CPI está condenada à prorrogação.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.