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Josias de Souza

Grampos insinuam que Cachoeira mandou uma caixa com dinheiro à sede do governo de Goiás

Josias de Souza

26/04/2012 04h03

O Guardião, sistema de escutas telefônicas da Polícia Federal, gravou em 10 de junho do ano passado conversas nas quais Carlinhos Cachoeira combina com integrantes de sua quadrilha a entrega de uma caixa contendo dinheiro.

O título do relatório sigiloso no qual a PF resume o conteúdo dos diálogos é explícito: "Entrega de dinheiro no palácio do governo de Goiás." O destinatário da verba seria o governador tucano Marconi Perillo. Ele nega.

O blog QuidNovi, do jornalista Mino Pedrosa, ex-empregado de Cachoeira, veiculou um lote de áudios. Num deles, o pós-bicheiro conversa com Geovani Pereira da Silva, apontado pela PF como tesoureiro da quadrilha.

Garcez pergunta a Cachoeira se pode enviar a encomenda para o "Waldimir" por meio de um portador (Gleyb Ferreira da Cruz). O contraventor autoriza. E faz uma recomendação: "Manda ele esconder aí." E o tesoureiro: "Tá numa caixa de computador."

O "Wladimir" mencionado no diálogo é, de acordo com a PF, um ex-vereador do PSDB de Goiânia, Waldimir Garcez. Foi ele, de acordo com os indícios recolhidos pelas interceptações telefônicas, quem fez a entrega do dinheiro.

Pouco depois, numa segunda conversa, Cachoeira informa a Geovani onde a caixa deveria ser entregue: "Cê contou?", Cachoeira pergunta. "Cabei de conferir", o interlocutor responde. E o bicheiro: "Então lacra aí, manda entregar pro Waldimir lá na praça lá. Ele tá na praça lá perto dopalácio. Fala pra ele passar lá e deixar."

Noutro grampo, Cachoeira conversa com o próprio Wladimir. Ele informa que está no palácio. Aguardava pela oportunidade de avistar-se com o governador. "Acho que lá pelas quatro e meia, tem dois deputados ainda", ele diz.

Wladimir informa a Cachoeira que o "tenente", supostamente o ajudante de ordens de Perillo, lhe pediu para "ficar próximo". Quando chegasse a sua vez, avisaria. Nessa conversa, o bicheiro cita textualmente o nome de "Marconi."

A PF não faz menção a valores no seu relatório. Ao resumir um dos diálogos de Cachoeira com o contador Geovani, o documenta anota: "cruzar com movimentação financeira – provável grande quantidade $" (veja no documento abaixo)

Marconi Perillo manifestou-se por meio de nota. Escreveu: "É irresponsável, leviana, inverídica e despropositada esta história toda. Associar meu nome a práticas ilegais, sem conexão com a realidade denota irresponsabilidade deliberada. Rechaço veementemente qualquer insinuação ou afirmação neste sentido."

Acrescentou: "Nunca houve esse encontro, nunca tratei no palácio de quaquer assunto que não fosse de interesse do governo de Goiás. Não há a menor lógica ou verdade nesta afirmativa, este assunto é esdrúxulo."

Como que farejando o inevitável, o próprio PSDB apresentou na primeira reunião da CPI do Cachoeira, realizada nesta quarta (25), um requerimento de convocação de Perillo. A legenda alega que o governador manifestou o interesse em esclarecer os fatos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.