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Josias de Souza

Lula aparece de bengala em evento do BNDES

Josias de Souza

03/05/2012 19h44

Alquebrado pelo tratamento contra o câncer na laringe, Lula adornou sua indumentária com um adereço novo. Compareceu a um seminário no BNDES, no Rio, escorando-se numa bengala.

Deve-se a adesão à peça, segundo a assessoria, à fraqueza de Lula. As sessões de químio e radioterapia, encerradas no final de março, roubaram-lhe 18 quilos, dos quais só recuperou uma parte.

Lula chegou ao auditório do BNDES acompanhado de Sérgio Cabral (PMDB). Tisnado pelos vídeos e fotos que desnudaram sua intimidade com Fernando Cavendish, dono da incômoda Delta, o governador do Rio pegou carona nos aplausos dirigidos a Lula.

Batizado de "Investindo na África: Oportunidades, desafios e Instrumentos para a Cooperação Econômica", o seminário é parte do calendário de festejos dos 60 anos do BNDES. Afora a bengala, Lula exibiu à platéia outra novidade. Ao discursar, absteve-se do tradicional improviso. Ateve-se à leitura de um texto preparado pela assessoria.

Referiu-se ao continente africano como uma fronteira de oportunidades. Para ele, o Brasil deve achegar-se à África sem a pretensão de impor modelos. "Não queremos hegemonia, queremos parceria", disse (a íntegra do discurso está disponível aqui).

Presidente do BNDES desde a gestão Lula, o economista Luciano Coutinho ecoou Lula. Instou os empresários presentes a abrir os olhos para uma África "repleto de oportunidades."

Lembrou que, antes da crise global de 2008, o continente crescia a taxas de 6% ao ano. Para 2012, projeta-se um crescimento de 5,5%. Para os anos subsequentes, disse Coutinho, o potencial é 5%.

Lula aproveitou a oportunidade para reiterar as críticas à fórmula fiscal adotada pelas nações desenvolvidas da Europa para se contrapor à crise. Disse que premiam os "reais culpados" pela encrenca e punem as "vítimas": "Os países ricos deram para o sistema financeiro todo o apoio, e para os mais pobres nenhum socorro."

Terminado o seminário, Sérgio Cabral deixou a sede do BNDES por uma rota de fuga. Aguardava-o na saída reservada às autoridades uma equipe de reportagem. Para esquivar-se dos microfones, a autoridade maxima do Estado do Rio saiu por uma porta lateral.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.