Com 31% da J&F, o BNDES vira ‘sócio’ da Delta
Nos relatórios da Operação Monte Carlo, a Polícia Federal levanta a suspeita de que Demóstenes Torres é "sócio oculto" da Delta Construções. Em petição ao STF, a Procuradoria da República encampou a expressão. Refugada pelo senador, a posição de sócio da encrenca está prestes a ser assumida pelo BNDES.
Levada ao balcão pelo empreiteiro Fernando Cavendish, a Delta despertou o interesse da J&F Holding, controladora do frigorífico JBS-Friboi. Espera-se para esta quarta (9) a veiculação dos detalhes da transação.
O BNDES detém 31% do capital da J&F. O que faz do bom e velho bancão oficial de fomento um candidato involuntário a sócio da sexta maior construtora do país. Uma empresa varejada pela PF no Cachoeiragate.
Conforme já noticiado aqui, participa da operacionalização do negócio Henrique Meirelles. Ex-presidente do Banco Central nas duas gestões de Lula, Meirelles comanda o conselho administrativo da J&F. E deve presidir também a Delta.
O dinheiro público do BNDES foi empurrado para dentro da escrituração da J&F ainda sob Lula. A coisa começou em 2009. Num lance, o JBS-Friboi, maior produtor de carne bovina do planeja, recebeu aporte de R$ 3,2 bilhões. Noutro, o BNDES injetou R$ 2,5 bilhões no frigorífico Bertin, adquirido pelo Friboi.
Numa terceira passagem, a pretexto de cruzar as fronteiras do disputado mercado dos EUA, a casa de carnes emitiu R$ 3,4 bilhões em debêntures. O BNDES adquiriu 99,9% desse papelório.
Sediado em Goiás, mesmo Estado que serve de base para os negócios ilícitos de Carlinhos Cachoeira,o JBS-Friboi é um empreendimento da família Batista. A face mais visível da árvore genealógica é José Batista Júnior.
Chamam-no de Júnior do Friboi. No ano passado, filiou-se ao PSB do governador pernambucano Eduardo Campos. Cultiva o sonho de candidatar-se a governador de Goiás em 2014.
Capitalista à brasileira, Júnior optou pelo socialismo de resultados de Campos porque deseja disputar o governo goiano com o apoio do petismo, de Dilma Rousseff e, se der, também de Lula.
– Atualização feita às13h33 desta quarta (9): O blog recebeu telefonema de pessoa ligada à operação de compra e venda da Delta. O propósito da ligação foi o de prestar esclarecimento sobre o texto veiculado acima. Informou-se que os 31% de participação do BNDES estão restritos ao JBS-Friboi, uma das empresas acomodadas sob o guarda-chuva da J&F Holding. Esclareceu-se que, do ponto de vista financeiro, o frigorífico JBS-Friboi e sua controladora J&F são empreendimentos autônomos.
Assim, confirmando-se a aquisição da Delta, a construtora descerá ao organograma de negócios da família Batista como mais uma empresa do grupo, sem vínculos societários com o BNDES. O repórter quis saber qual é o peso do frigorífico JBS-Friboi no faturamento da J&F, a holding que se prepara para assumir a Delta.
A resposta foi a seguinte: A JBS-Friboi, maior produtora de carne bovina do mundo, é o carro-chefe da holding. Tem faturamento anual superior a R$ 50 bilhões. As outras empresas do grupo amelham entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões. Conclusão do repórter: sem a casa de carnes que carrega verbas do BNDES em sua escrituração, a holding J&F não existiria.
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