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Josias de Souza

CGU aponta ‘prejuízos’ de R$ 96,5 milhões nos seis hospitais federais do Rio entre 2009 e 2011

Josias de Souza

11/05/2012 06h33

A Controladoria-Geral da União divulga nesta sexta (11) a íntegra de um relatório de autoria realizada nos seis hospitais mantidos pelo governo federal na cidade do Rio de Janeiro. Varejaram-se despesas feitas durante três anos –de 2009 a 2011. Coisa de R$ 888 milhões. Desse total, R$ 96,5 milhões resultaram ou estão prestes a resultar em prejuízos às arcas do Tesouro Nacional.

Em notícia veiculada em seu site nesta quinta (10), a CGU antecipou parte dos achados que esmiuçou no relatório. Dividiu os prejuízos em dois tipos: o "efetivo", já consumado. E o "potencial", que ainda pode ser evitado se o Ministério da Saúde adotar providências corretivas a tempo. O texto não especifica quanto dos milhões malversados já foram para o beleléu e quanto ainda pode ser salvo.

O grosso dos problemas infestam quatro áreas: locação de equipamentos hospitalares (perdas de R$ 35,2 milhões), obras e reformas prediais (desvios de R$ 27,9 milhões); serviços (R$ 20,6 milhões) e aquisição de medicamentos e insumos (R$ 12,6 milhões). Alguns dos malfeitos chocam pela falta de refinamento. Ou, por outra, surpreendem pelo excesso de descaramento.

No Hospital de Ipanema, por exemplo, o serviço de lavanderia foi contratado com sobrepreço de notáveis 79%. Alugaram-se equipamentos médicos que o hospital já possuía. Só nesse lance, o prejuízo anual somou R$ 4,2 milhões. Numa obra de recuperação da fachada, embutiu-se um superfaturamento de R$ 1,2 milhão.

No Hospital da Lagoa, realizaram-se pagamentos sem respaldo nos contratos. Mais de R$ 5 milhões. Injetou-se numa obra de modernização dos elevadores sobrepreço de R$ 1,6 milhão. No Hospital do Andaraí, os pagamentos sem cobertura contratual somaram R$ 658 mil.

Noutra unidade, o Hospital Cardoso Fontes, verificou-se que o número de servidores terceirizados que davam expediente era menor do que o previsto em contrato. Entre 2010 e 2011, a esperteza levou ao pagamento de R$ 1,3 milhão por mão de obra inexistente. Alugou-se um equipamento hospitalar cuja necessidade não foi demonstrada. Lá se foi mais R$ 1,2 milhão. Alugou-se um equipamento de vídeocirurgia que, comprador, sairia mais em conta. Prejuízo de R$ 5,8 milhões.

O Hospital dos Servidores do Estado, farejaram-se novos problemas na locação de equipamentos. Curiosamente, sempre da mesma empresa: Microview. Aqui, houve superfaturamento de R$ 5,6 milhões. Superfaturaram-se também serviços de lavanderia (R$ 3,3 milhões) e compra de remédios (R$ 764,6 mil). Houve também despesas não previstas em contrato: extraordinários R$ 18,4 milhões.

Por último, no Hospital de Bonsucesso, novas surpresa$: contratos com sobrepreço de R$ 16,5 milhões. Equipamentos comprados há 20 meses encontram-se ociosos. Adquiriu-se de uma empresa de nome sugestivo –Midas Engenharia— sistemas de exaustão para banheiros e câmaras escuras. Saíram a R$ 17,6 mil cada. No mercado, custam R$ 532. Sobrepreço de 3.200%.

Além de enviar cópia da auditoria ao Ministério da Saúde, a CGU encaminhará exemplars também para o Ministério Público Federal, TCU, Polícia Federal e Advocacia-Geral da União. O material ajuda a explicar por que longe do hospiral Sírio-Libanes o sistema de saúde oferece à clientele um serviço tão precário.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.