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Josias de Souza

Bloco governista quer que Vaccarezza deixe CPI

Josias de Souza

18/05/2012 18h12

Integrantes do condomínio que representa os partidos governistas na CPI do Cachoeira desejam que Cândido Vaccarezza (PT-SP) peça para sair da comissão. Avalia-se que o episódio do 'torpedo' enviado pelo deputado ao governador Sérgio Cabral (Rio) –"Você é nosso e nós somos teu"— "manchou" o bloco.

Os líderes do PT no Senado e na Câmara –Walter Pinheiro (BA) e Jilmar Tatto (SP)— discutiram o problema numa conversa ocorrida nesta sexta (18). Decidiu-se repassar a insatisfação a Vaccarezza, delegando a ele a decisão.

"Não queremos dar a esse episódio uma importância maior do que ele tem, pedindo a cabeça do Vaccarezza", disse Pinheiro ao blog. "Mas não podemos deixar de reconhecer que isso causou problemas. Então, queremos contar com o Vaccarezza, para que ele faça uma avaliação e decida, com bom senso, o que deve fazer."

Pinheiro lidera no Senado um bloco integrado por PT, PSB, PCdoB, PDT e PRB. Esse grupo tem dez representantes na CPI –cinco titulares e cinco suplentes. Ecoando a irritação que recolheu do grupo, o líder disse que a mensagem enviada por Vaccarezza a Cabral, pelo celular, "manchou a estratégia do bloco".

Por quê? "Ficou uma dúvida no ar. Agora, temos que ficar o tempo todo nos explicando sobre algo que não faz parte da nossa estratégia." Como assim? "Em algum momento, a CPI vai ter de avaliar a situação dos governadores. O que achamos é que, antes que isso ocorra, é preciso avançar nas investigações."

Pinheiro prossegue: "Suponha que nós chamássemos o Cabral hoje. Iríamos perguntar a ele o quê? Aquele negócio do jantar dele com o [Fernando] Cavendish, em Paris? Isso todo mundo já sabe e não é coisa para CPI. É assunto para a Assembléia Legislativa do Rio avaliar. Para chamar Cabral na CPI, é preciso ter elementos."

Para Pinheiro, a mensagem de Vaccarezza a Cabral, filmada por um cinegrafista do SBT, terminou prejudicando o próprio governador. "Hoje, há uma impressão generalizada de que não tem nada contra o Cabral. Agora, todo mundo se pergunta: O que o Vaccarezza sabe que eu não sei?"

Ouvido pelo blog, Vaccarezza disse que não foi procurado nem por Jilmar Tatto nem por Walter Pinheiro. O deputado veiculou em seu site uma nota. Está disponível aqui. E vai reproduzida abaixo:

Gostaria de enfatizar que não haverá 'blindagens' nos trabalhos da CPMI. Qualquer um que tiver relação com a organização criminosa de Carlos Cachoeira será investigado. Por outro lado, não vamos compactuar com a espetacularização ou com o esvaziamento da investigação.

O texto da mensagem captado ontem pela TV refletiu minha preocupação pessoal com tensionamentos pontuais entre o PT e o PMDB. Meu objetivo era deixar claro ao governador Sérgio Cabral que, apesar das discordâncias pontuais, a boa relação entre nossos partidos deve ser mantida.

Gostaria de enfatizar ainda que o governador Sérgio Cabral (PMDB) não foi citado em nenhuma gravação dos inquéritos, conforme atestado nos depoimentos dos delegados da Polícia Federal à comissão. Logo, não tem sentido falar em uma suposta 'blindagem'.

A situação é diferente no caso do governador Marconi Perillo (PSDB), contra quem pesam suspeitas fortes de que havia uma cota de funcionários do seu governo indicados pela organização criminosa, principalmente na Polícia Civil e no Detran-GO."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.