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Josias de Souza

Se perder no STF, Cachoeira silenciará na CPI

Josias de Souza

21/05/2012 04h30

Sob a bem remunerada orientação de Márcio Thomaz Bastos, Carlinhos Cachoeira tornou-se um depoente duro de roer. Se for atendido pelo STF, fugirá do banco da CPI batizada com o seu nome pela segunda vez num intervalo de uma semana. Desatendido, vai se abster de responder à inquirição dos congressistas, avisa seu advogado.

Remarcado para esta terça (22), o depoimento de Cachoeira à CPI depende, de novo, de um despacho do ministro Celso de Mello, do STF. O magistrado digulgará nesta segunda (21) sua decisão sobre a nova petição que recebeu de Thomaz Bastos há três dias.

Há uma semana, Celso de Mello desobrigara Cachoeira de comparecer à CPI. Considerara que o presidente da comissão, Vital do Rêgo (PMDB-PB), havia violado os sacrossantos direitos do acusado ao sonegar à defesa o acesso aos inquéritos sigilosos disponíveis no Congresso.

Em reação, a CPI franqueou sua sala-cofre à equipe do ex-ministro da Justiça de Lula e remarcou o depoimento de Cachoeira. Na nova petição, Thomaz Bastos reclama no Supremo que Vital não autorizou a extração de cópias. De resto, pede mais tempo.

A defesa alega que, mobilizando infantaria de uma dezena de doutores, precisará de pelo menos três semanas para digerir os arquivos digitais da CPI. É chicana protelatória, acusam os membros da comissão, à espera do veredicto de Celso de Mello.

O pior é que, ainda que obtenha o que deseja –autorização para copiar documentos e três semanas para analisá-los—, Cachoeira não estará obrigado a abrir o bico na CPI. Pela lei, nenhum acusado é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Pode calar e até mentir.

Afora a convocação da CPI, Cachoeira foi chamado a depor, na quarta (23), perante o Conselho de Ética do Senado. Ali, foi arrolado como testemunha de defesa do amigo-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), às voltas com um processo por quebra do decoro parlamentar.

Thomaz Bastos não informou, por ora, qual será a tática de seu cliente nesse segundo foro. Se optar por travar a língua também no Conselho de Ética, Cachoeira fritará Demóstenes, já bem passado.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.