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Josias de Souza

Assista a 3 cenas patéticas de uma CPI à deriva

Josias de Souza

24/05/2012 18h32

A CPI do Cachoeira realizou nesta quinta (24) –ou tentou realizar— mais uma sessão de inquirição de testemunhas. Mimetizando a tática do chefe, o sargento reformado da Aeronáutica da Idalberto Matias 'Dadá' de Araújo, araponga de Carlinhos Cachoeira, escorou-se no direito constitucional de calar para não se autoincriminar.

Jairo Martins, outro membro da quadrilha que operava no submundo da coleta e difusão de informações, também esquivou-se da inquirição pela conveniente via do silêncio. Imobilizado, o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), viu-se compelido dispensar os pseudodepoentes.

O ex-vereador goiano Wladmir Garcez (PSDB), terceiro convocado do dia, disse meia dúzia de palavras. Apontado pela PF como elo de ligação entre Cachoeira e o governador tucano Marconi Perillo, de Goiás, tentou desqualificar o trabalho da polícia. Disse que os grampos em que sua voz soa em diálogos vadios foram montados.

Na contramaré da torrente de indícios, Wladimir declarou-se uma inocente criatura. Disse que não é marginal. Antes de ir em cana, ganhava a vida como consultor da Delta e de Cachoeira. Coisa "lícita". Nada a ver com negócios ilícitos. Aliás, nem sabia que Cachoeira desaguava no Código Penal.

Wladimir disse tudo isso numa manifestação preliminar. Depois, informou aos inquiridores que não responderia a uma mísera pergunta. E o pretendido depoimento fez água.

Sem ter o que fazer, os membros da CPI puseram-se a bigrar entre si. Fernando Francischini (PSDB-PR) dirigiu ao relator Odair Cunha (PT-MG) um par de adjetivos pouco lisonjeiros. Quando se trata de investigar o petista Agnelo Queiroz, disse Francischini, Odair é "tchutchuca". Com o tucano Marconi Perillo, vira "tigrão".

Petista como Odair e paranaense como Francischini, o deputado Dr. Rosinha exibiu os espinhos. Foi ao microfone para tomar as dores do relator. Abespinhado, o colega tucano levantou-se da cadeira. Antes que a coisa descambasse para o pugilato, entrou em cena a turma do 'deixa-disso'.

Frustrados os depoimentos e apartada a briga, houve quem defendesse que a CPI aproveitasse a sessão para votar a quebra dis sigilos da matriz da Delta e a convocação dos governadores Perillo (GO), Agnello (DF) e Sérgio Cabral (RJ). Nada feito. A análise dos requerimentos foi postergada para terça (29).

Quem observa de longe, enxerga no plano de trabalho da CPI um certo viés viciado. Mas o comando da comissão chama o Vício, carinhosamente, de Critério.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.