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Josias de Souza

Defesa admite dinheiro de Maluf na ilha Jersey

Josias de Souza

19/07/2012 06h05

Acusado de remeter para o exterior verbas sujas amealhadas na época em que foi prefeito de São Paulo, o neo-petista Paulo Maluf cansou de repetir que não possui dinheiro em contas bancárias abertas no estrangeiro. A serviço da família Maluf, advogados desmentem o chefe do clã nos autos de um processo que corre na Justiça de Jersey, ilha britânica do Canal da Mancha.

Nesse processo, a prefeitura de São Paulo tenta reaver US$ 22 milhões desviados de obras municipais entre 1993 e 1996, sob Maluf. De olho no andamento do caso, o repórter Jamil Chade conta que, em documentos anexados aos autos, os doutores contratados pelos Maluf reconhecem que a família controlava as empresas offshore em cujas contas a grana foi parar.

Mais: os advogados admitem que parte do dinheiro decorre de "comissões" amealhadas pelo próprio Maluf. Nada a ver com corrupção, naturalmente. Alega-se que o ex-prefeito teria intermediado a venda de empresas. De resto, os advogados anotam: "Admite-se que o sr. Flávio Maluf [filho do protagonista] era o diretor da Durant e da Sun Diamond Limited [as logomarcas abertas no exterior]."

Levada ao freezer por decisão judicial, a verba de Jersey terá seu destino definido pelo juiz Howard Page. Os Maluf afirmam que se trata de dinheiro limpo. A prefeitura sustenta o contrário. Prevalecendo no processo, o município terá o numerário de volta. Do contrário, babau.

Beneficiário do apoio de Maluf na disputa pela cadeira de prefeito paulistano, Fernando Haddad, o pupilo de Lula, deve olhar para Jersey como um zarolho. Com um olho, vê que seria bom chegar à prefeitura com um reforço de caixa de US$ 22 milhões. Com o outro, enxerga os danos que a eventual condenação de Maluf provocará em sua campanha. Infelizmente, esse é um tipo de estrabismo para o qual a oftalmologia ainda não encontrou uma saída.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.