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Josias de Souza

‘Lulodependência’ de Haddad e realçada na tevê

Josias de Souza

22/08/2012 05h22

A 'lulodependência' de Fernando Haddad foi realçada já na estréia da propaganda eleitoral na tevê. Em inserções de 30 segundos, o comitê de campanha do PT levou ao ar sua principal arma na batalha para arrancar o candidato à prefeitura de São Paulo da insignificância nas pesquisas.

Ainda com irrisórios 8% no Datafolha, Haddad foi vendido por seu padrinho político como "o melhor ministro da Educação da história". No comercial, Lula evoca 2010: "Há dois anos, eu pedi ao povo brasileiro para votar em Dilma. Pouca gente conhecia ela. Mas confiou em mim. Hoje, mais que nunca, o Brasil sabe que votou na pessoa certa."

Lula prossegue: "Com a mesma convicção eu peço ao povo de São Paulo que vote em Fernando Haddad para prefeito. Conheço ele bem. Trabalhou comigo." Após guindar o afilhado ao púlpito de "melhor ministro da Educação da história", o ex-soberano declara: "Com o meu apoio, o seu, e o da Dilma, ele vai ser o melhor prefeito da história de São Paulo." Haddad só surge em cena no finalzinho da peça. Mudo, abraça Lula.

O primeiro dia da propaganda foi dedicado aos candidatos a vereador. Só nesta quarta (22) serão veiculados os primeiros programas completos dos candidatos a prefeito. Haverá mais Lula no marketing de Haddad. Porém, o candidato também terá de se expor. Vai mover os lábios.

Nas próximas semanas vai-se conhecer o potencial da tentativa de transfusão de prestígio. O candidato revelou-se mais dependente de Lula do que supunham seus operadores. O tratamento do câncer retardou o ingresso do patrono no jogo. A inanição de Haddad nas sondagens eleitorais dá notícia dos efeitos que o imprevisto provocou.

A lógica indica que a taxa de intenções de voto de Haddad deve crescer. A questão agora é saber se esse crescimento virá na proporção necessária para levá-lo ao segundo turno. Nesta terça (21), o candidato esteve com o padrinho. Mostrou-lhe os vídeos que Lula já gravou. O protagonista gostou do resultado.

Na saída do encontro, Haddad interpetou as pesquisas: "A minha convicção permanece a mesma. Os paulistanos estão em busca de mudança e vão votar em quem apresentar as melhores propostas." De fato, as dificuldades enfrentadas pelo antagonista José Serra (27% no Datafolha, com 37% de rejeição) sinalizam um certo humor mudancista do eleitorado.

O diabo é que, por ora, o dono do voto enxerga no azarão Celso Russomanno (31%) uma alternativa melhor do que Haddad. Há dois meses, num evento com o PCdoB, Lula dissera que, para impor nova derrota a Serra, iria à campanha com disposição para "moder os calcanhares" dos rivais. Chegou a hora de mostrar os dentes.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.