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Josias de Souza

De olho na vice de Dilma em 2014, Temer tenta garantir sua recondução ao comando do PMDB

Josias de Souza

04/09/2012 19h11

Decidido a renovar em 2014 a parceria que estabeleceu com Dilma Rousseff em 2010, o vice-presidente Michel Temer já articula sua recondução à presidência do PMDB. O cargo ficará vago em março de 2013. O debate interno sobre o preenchimento começa a mobilizar a legenda. Espera-se chegar a uma definição antes do final do ano.

Mantendo-se no leme, Temer conserva a condição de principal interlocutor do PMDB nas negociações de 2014, que serão intensificadas após a abertura das urnas da eleição municipal de 2012. Daí precocidade do debate sobre a sucessão interna que só ocorrerá daqui a seis meses.

Ao assumir a vice-presidência da República, em 2011, Temer licenciou-se do comando do partido. Continuou, porém, dando as cartas. Opera em sintonia com o primeiro vice-presidente, senador Valdir Raupp (RO), que responde interinamente pela presidência. Trabalha pela manutenção desse modelo.

Deseja ser reconduzido junto com Raupp, que vocaliza na direção partidária as vozes do grupo do Senado, capitaneado por José Sarney e Renan Calheiros. Prevalecendo, Temer renovará o pedido de licença. E continuará presidindo a legenda a quatro mãos, em harmonia com Raupp.

Temer preside o partido desde 2001. Já lá se vão 11 anos. A última recondução ocorreu em 2010, sob questionamentos de dirigentes de quatro diretórios estaduais que se opunham à aliança com o PT. Roberto Requião (Paraná) defendia a candidatura presidencial própria. Jarbas Vasconcelos (Pernambuco), Luiz Henrique (Santa Catarina) e Orestes Quércia (São Paulo), preferiam o tucano José Serra à petista Dilma Rousseff.

Para driblar as resistências, Temer pacificou as relações de dois grupos que viviam às turras: o da Câmara, liderado por ele, e o do Senado, operado por Sarney e Renan. Foi nas pegadas desse entendimento que Raupp foi alçado ao segundo posto do partido. Desde então, o PMDB opera sob relativa unidade.

Foi graças a essa engenharia que Temer bateu o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, numa disputa pela vice na chapa de Dilma em 2010. Lula queria Meirelles. Orientara-o a filiar-se ao PMDB. Vitaminado pelo acerto com o grupo do Senado, Temer se impôs à vontade do patrono de Dilma.

Hoje, Meirelles está no PSD de Gilberto Kassab, a candidatura própria defendida por Requião é mais improvável do que antes, Jarbas encontra-se de mãos dadas com Eduardo Campos (PSB), Luiz Henrique é um senador à procura de rumo e Orestes Quércia virou lápide.

Dizimadas as resistências, Temer opera para chegar a março no comando de uma chapa única. Acertou-se com Raupp. Significa dizer que está a caminho de entender-se com Sarney e Renan. Tesoureiro do PMDB, o senador cearense Eunício Oliveira gostaria de viabilizar-se como candidato à presidência do partido. Os partidários de Temer afirmam que faltam-lhe votos.

Eunício preside a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante do Senado. Insinuava-se como candidato à presidência do Senado. Renan informou-lhe que está no páreo. Inviabilizando-se a alternativa de suceder Temer, Eunício terá de contentar-se com a disputa pela liderança da bancada de senadores do PMDB.

A exemplo do que ocorrera em 2010, Lula insinuava nos subterrâneos que poderia indicar um vice novo para dilma em 2014. Em privado, mencionava a hipótese de apontar o governador pernambucano e presidente do PSB Eduardo Campos. Ao abrir guerra contra o PT em Recife, a alternativa de Lula virou pó.

O petismo agora enxerga no mandachuva do PSB um adversário potencial de Dilma, não um vice. Com o caminho aberto, Temer trabalha para pavimentá-lo, mantendo sob seus domínios o comando do PMDB. Uma legenda que, a partir de fevereiro do ano pré-eleitoral de 2013 comandará a Câmara e, de novo, o Senado. Adulando-o, o PT terá tempo de tevê e governabilidade. Contrariando-o, comerá o pão que Asmodeu amassou.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.