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Josias de Souza

STF deve impor novas condenações a Valério e réus do Rural, agora pela acusação de lavagem

Josias de Souza

09/09/2012 21h40

O STF realiza nesta segunda-feira (10) a 21a sessão de julgamento do mensalão. Vai à mesa o capítulo quatro da denúncia da Procuradoria da República. No reordenamento estabelecido pelo relator Joaquim Barbosa será a terceira "fatia" do processo. Nesse trecho os réus do 'núcleo' publicitário' e do 'núcleo financeiro' são acusados de montar um esquema de lavagem de dinheiro.

De acordo com a denúncia, as agências publicitárias de Marcos Valério e o Banco Rural organizaram-se para ocultar repasses de dinheiro a políticos e partidos. Nessa fase, escalarão o cadafalso dez réus.

Do lado publicitário, além de Valério e dos ex-sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, o capítulo inclui o advogado Rogério Tolentino e as ex-funcionárias Simone Vasconcelos (diretora) e Geiza Dias (secretária). No bloco financeiro, serão julgados novamente os ex-gestores do Rural: Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório.

Valério e seus ex-sócios já foram condenados um par de vezes por corrupção ativa e peculato em negócios celebrados com o Banco do Brasil e com a Câmara. Na semana passada, também a turma do Rural arrostou uma condenação por gestão fraudulenta de instituição financeira. Dos quatro réus, apenas Ayanna Tenório foi absolvida.

Tomados pelas observações que fizeram ao ler os primeiros votos, os ministros devem impor um lote de novas condenações. No julgamento da primeira "fatia", ficou assentado que o mensalão foi abastecido com verbas desviadas de cofres públicos. Na segunda, ficou entendido que os alegados empréstimos do Rural ao PT e às agências de Valério foram "simulados".

No novo capítulo, os advogados de defesa alegam que não houve ocultação dos repasses, essencial para caracterizar o crime de lavagem de dinheiro. Sustenta-se que os destinatários do dinheiro identificaram-se e assinaram recibos. Os autos demonstram que, em verdade, os recibos tiveram circulação interna.

Destinavam-se ao controle que era exercido por Valério, não à escrituração formal das operações bancárias. No papelório oficial, os lançamentos foram feitos como pagamentos das empresas de Valério a fornecedores. Os cheques eram nominais à SMP&B, empresa de Valério.

Noutra evidência da tentativa de acobertamento, a Procuradoria realça que foram aos guichês do Banco Rural não os políticos, mas seus prepostos. Confirmando-se as condenações desse capítulo, abre-se a trilha que levará à incriminação dos petistas e aliados que beberam das valeriana$ fontes.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.