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Josias de Souza

Dilma retarda anúncio de concessões de portos e aeroportos para depois do 2o turno da eleição

Josias de Souza

17/10/2012 06h37

Dilma Rousseff espera apenas pela abertura das urnas do segundo turno da eleição municipal para anunciar o complemento do seu programa de concessões no setor de infraestrutura. Foi o que disse o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) em palestra a empresários reunidos na sede da revista Exame, em São Paulo.

Pimentel discorreu sobre o modelo econômico adotado sob Dilma. Mencionou as medidas adotadas para baratear o custo da folha salarial das indústrias e estimular o crédito. A alturas tantas, disse que o esforço para reduzir o "custo Brasil" inclui o pacote de providências voltadas para o setor de logística.

"Os senhores todos acompanharam o anúncio recente de concessões na área rodoviária, portuária, aeroportuária… Vai ser complementado agora. Logo após o segundo turno das eleições, a presidenta deve anunciar o restante das concessões de portos e aeroportos, já o fez das rodovias e das ferrovias."

Encerrada a palestra, o ministro submeteu-se às perguntas da audiência. Ricardo Diniz, executivo do Bank of America, questionou-o sobre prazos. Mencionou a proximidade dos grandes eventos esportivos –a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. E citou a encrenca do aeroporto de Campinas (Viracopos), onde problemas técnicos de um avião cargueiro provocaram a interrupção de pousos e decolagens por 46 horas.

Em resposta, Pimentel disse que a Infraero, estatal que gere os aeroportos, passará por profundas modificações. "Uma grande mudança já está sendo pensada." Absteve-se de antecipar os detalhes, "para não criar expectativas." Limitou-se a repisar o que dissera na palestra: "A presidenta Dilma deve fazer esses anúncios logo após o segundo turno das eleições."

O ministro não disse, mas o ajuste do calendário das concessões à folhinha das eleições tem um sentido estratégico. A oposição chama de "privatização" o que Dilma batiza de "concessão". Quando a presidente anunciou a entrada da iniciativa privada nas rodovias e ferrovias, o tucanato serviu-se da ironia para elogiar a providência.

Líderes do PSDB disseram que Dilma mimetiza FHC. Adota medidas que, na Era tucana, o PT criticava. Com o adiamento, o Planalto evita fornecer munição para os antagonistas dos candidatos petistas. O partido de Dilma disputa o segundo turno em 22 cidades. Entre elas o município de São Paulo, onde Fernando Haddad mede forças com o tucano José Serra.

Pimentel fez em sua palestra algo que muitos petistas evitam. Ao dizer que o Brasil está fadado a tornar-se uma potência econômica no século 21, incluiu FHC no processo que preparou o terreno.

"Construímos a estabilidade econômica e monetária do nosso país nos mandatos do presidente Fernando Henrique com esforço, com sacrifício. Custou caro pro Brasil chegar onde chegou. Vivemos períodos terríveis de inflação, de hiperinflação. Depois, longos períodos de recessão. Tudo isso pra chegar no momento me que chegamos."

O ministro prosseguiu: "Depois, com muita sabedoria, o país colocou o presidente Lula dois mandatos à frente do governo da Republica. E ele abriu uma nova perspectiva: crescimento econômico com distribuição de renda. Aí, sim, nóss nos tornamos esse que é o terceiro, o quarto maior mercado do mundo, segundo em alguns casos."

Na sequência, Pimentel falou do presente: "Com a presidenta Dilma, agora vamos enfrentar aquele que talvez seja o maior desafio. Com todo esse patrimônio que acumulamos vamos ser um dos líderes do mundo. […] Líderes pela nossa competência econômica, pelos recursos naturais que nós temos e pela capacidade que o Brasil tem, invejável talvez, de atrair, absorver e de tornar brasileiros aqueles que aqui vêm para trabalhar e criar suas famílias. Isso tudo somado nos dá o destino do nosso país. Nos estamos destinados a ser líderes desse mundo ao longo do século 21."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.