Topo

Josias de Souza

Deputados institucionalizam a semana de 3 dias

Josias de Souza

18/10/2012 06h06

Os brasileiros comuns costumam suar a camisa por cinco dias e meio. Folgam no sábado à tarde e no domingo. Esse tipo de jornada recebe o nome de 'semana inglesa'. A Câmara acaba de institucionalizar a semana brasiliense de três dias. Já existia na prática. Mas agora foi inserida no regimento.

Os deputados passaram a dispor de amparo regimental para trabalhar de terças a quintas. Depois, voltam para os seus Estados, onde permanecem de sextas a segundas. A novidade foi aprovada em votação simbólica, sem que os beneficiários precisassem imprimir as digitais no painel eletrônico.

Em protesto solitário, o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), levou os lábios ao trombone. Disse que a mudança oficializou a gazeta. Informou que apresentará um projeto para tentar desfazer o inacreditável.

Marco Maia (PT-RS), presidente da Câmara, abespinhou-se com o colega. "O deputado Rubens Bueno deveria se informar sobre o funcionamento do Parlamento em outros países. O Legislativo brasileiro é um dos poucos que funciona cinco dias por semana durante o ano todo."

Repisou o lero-lero segundo o qual o trabalho dos deputados não se restringe ao plenário. Laboram também nos Estados, em contatos com as "bases". A desculpa é antiga. Ao reinvocá-la, Maia como que expõe a debilidade dos serviços de comunicação do país.

Os Correios e a telefonia não lograram substituir a contento as modalidades primitivas de contato interpessoal. Algo que condena os deputados a atuarem como estafetas de si mesmos. Bem verdade que já existe a internet. Mas, que diabos, o computador não aperta a mão, não abraça as "bases".

No futuro, a tecnologia talvez consiga desenvolver robôs teleguiados capazes de prover aos parlamentares o único privilégio de que ainda não dispõem: a onipresença. As máquinas ficariam em Brasília os sete dias da semana. Os deputados, nos Estados. Nada de vice-versa. Os robôs não saberiam corresponder ao afeto das "bases".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.