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Josias de Souza

Eleição do poste de SP 'compensou' 4 apagões

Josias de Souza

29/10/2012 06h09

A temporada eleitoral de 2012 demonstrou que ainda é grande o poder de sedução de Lula. Mas também ficou evidenciado que, na política, mesmo os lábios mais sedutores precisam de argumentos.

Lula cunhou um bordão para referir-se aos candidatos que decidiu ligar na tomada. Pronunciou-o pela primeira vez em Campinas, no palanque de Márcio Pocchmann. Repetiu-o em São Paulo, num comício de Fernando Haddad. Repisou-o em Fortraleza, ao pedir votos para Elmano de Freitas.

"Quando eu lancei o Haddad, disseram que eu tava lançando um poste. Quando eu lancei a Dilma, era um poste. Fulano é um poste. Cicrano é um poste. De poste em poste nós vamos iluminar o Brasil inteiro", jactou-se Lula.

Em Campinas, o eleitor preferiu Jonas Donizette, lançado pelo PSB de Eduardo Campos com o apoio do PSDB de Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Em Fortaleza, deu Roberto Cláudio, do pedaço do PSB controlado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes.

Graças a uma combinação de intuição e sorte, Lula conseguiu eletrificar Haddad. Um "poste" que, assentado na mais vistosa capital brasileira, produziu um clarão de tal magnitude que terminou ofuscando o breu de Campinas, de Fortaleza e de outras duas praças.

No primeiro turno, Haddad tardou a acender. Sobreviveu na disputa com uma taxa de luminosidade que não fez jus ao histórico do PT. A despeito da gambiarra que plugou o 'novo' no arcaísmo representado por Paulo Maluf, prevaleceu a intuição de Lula.

No segundo round, a candidatura de Haddad foi ligada a um par de 'gatos'. O PT retirou energia extra da rejeição lunar de José Serra e do curto-circuito da gestão de Gilberto Kassab –um aliado tóxico que a sorte afastou de Lula.

Ao festejar o triunfo na Avenida Paulista, Haddad fez troça da nova trombada de Serra. Do alto de um caminhão de som, o pupilo de Lula açulou a militância: "Vocês sabem que eu sou o segundo poste do Lula. Tão sabendo disso, né?"

O feito paulistano, por grandioso, justifica a festa e a ironia. Mas não faz desaparecer um fato: o prestígio de Lula sofreu em 2012 quatro apagões. Afora os constrangimentos de Campinas e Fortaleza, o ex-soberano teve seus preferidos desligados da tomada pelo eleitor noutras duas praças.

Em Salvador, a presença e a pregação de Lula não detiveram ACM Neto (DEM). Em Manaus, não impediram o renascimento político de Arthur Virgílio (PSDB). Quer dizer: o puxador de votos do PT pode muito. Mas nem sempre faz milagres.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.