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Josias de Souza

Custo Haddad:depois de Marta, Dilma cogita levar Chalita para Esplanada dos Ministérios

Josias de Souza

06/11/2012 04h10

No relógio da política, uma resolução recente pode virar rapidamente coisa muito antiga. No início da campanha municipal, Dilma Rousseff decidira que não envolveria seu governo na eleição. No final, as composições que ajudaram a azeitar a vitória de Fernando Haddad em São Paulo devem lhe custaram dois ministérios.

Uma pasta, a da Cultura, foi entregue já no primeiro turno à senadora Marta Suplicy (PT). A outra, provavelmente a de Ciência e Tecnologia, deve ser repassada no início de 2013 ao deputado federal Gabriel Chalita (PMDB). Como habitualmente ocorre, as nomeações da ministra Marta e do quase-ministro Chalita são feitas de 50% de queixumes e de 50% de autojustificativa.

Empurrado pelo eleitor paulistano para a quarta colocação no primeiro turno, Chalita foi ao ringue no segundo round ao lado de Haddad. Migração natural. Além dos vínculos com o vice Michel Temer, que estava acertado com Lula, Chalita é um ex-tucano que não se bica com José Serra. Ainda assim, tratou-se de valorizar o gesto.

Com jeito, o PMDB recordou que se considera mal aquinhoado no primeiro escalão de Dilma. Foram ao noticiário as primeiras notinhas sobre a virtual nomeação de Chalita para um ministério. Algo logo desmentido. Uma coisa, dizia-se então, nada tinha a ver com a outra. Acreditou quem quis.

No caso de Marta, excluída por Lula da disputa paulistana, os 50% de queixumes envolviam o agastamento provocado pelo que parecia ser um desapreço. Marta demorava-se a arregaçar as mangas por Haddad. Guindada ao ministério, foi à luta. E apressou-se em negar que o gesto de Dilma tivesse algo a ver com a meia-volta. Política em estado bruto.

Confirmando-se a promessa de nomeação de Chalita, o futuro ministro terá percorrido uma trilha sinuosamente proveitosa. No PSDB, fez-se amigo do casal Geraldo e Lu Alckmin. Serviu ao governo tucano de São Paulo como secretário de Educação. Almejando voos maois altos, mudou-se para o PSB.

Na sucessão de 2010, aproximou-se de Dilma. Ex-semininarista, valeu-se de seus laços com a Igreja para ajudar na desmontagem da armadilha do aborto. Como a legenda de Eduardo Campos não lhe deu asas, Chalita foi ao PMDB de Temer. De novo, política em estado bruto. Algo que a ex-purista Dilma, agora com os olhos voltados para 2014, já não pode ignorar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.