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Josias de Souza

Ayres Britto roga a políticos por reajuste salarial

Josias de Souza

14/11/2012 16h35

Na bica de trocar a toga pelo pijama, Carlos Ayres Britto, presidente do STF, convidou líderes políticos para um café da manhã. Serviu-lhes frutas, pão, leite, café e um apelo. Rogou aos parlamentares que reservem no Orçamento da União de 2013 verbas para os reajustes salariais solicitados pelo STF. Aumentos que, se concedidos, descem em cascata para todo o Judiciário.

Dirigindo-se a uma mesa que incluía o senador Romero Jucá, relator do Orçamento, Britto disse os contracheques de magistrados e servidores não vêem um reajuste há quatro anos. Pelas suas contas, os juízes amargam perdas inflacionárias de 28%. O prejuízo dos funcionários, disse ele, é ainda maior: 54%.

Segundo o ministro, o quadro produz dois fenômenos. Um submete os juízes a um processo de "temerário desprestígio". Pintou a cena com cores fortes: "A magistratura perde poder de competitividade. A procura por cargos de magistrado diminuiu preocupantemente."

Outra consequência seria a crescente "desprofissionalização" do Judiciário, cujos funcionários batem em retirada às "levas". De novo, Britto carregou nas tintas: "Estamos nos desprofisisonalizando. Isso é realidade, não é retórica. Temos tabelas e documentos comprovando isso."

Britto veste-se de líder sindical a poucos dias de trocar a toga pelo pijama. Fará aniversário de 70 anos no domingo. Nesta quarta (14), participa de sua última sessão no plenário do STF. Cuidou de convidar para o café da manhã salarial o sucessor Joaquim Barbosa.

Relator do mensalão, Barbosa será o terceiro presidente do Supremo a medir forças com Dilma Rousseff por reajustes. Antes dele e de Britto, defrontara-se com as resistências do Planalto o também aposentado Cezar Peluso. A depender de Dilma, o pedido do STF não sera atendido. O governo alega que, em tempos de crise, não há espaço para conceder ao Judiciário senão o reajuste já assegurado aos servidores do Executivo. Coisa de 5% em 2013.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.