Delator de escândalo contesta a versão da PF
Responsável pela deflagração do inquérito que desaguou na Operação Porto Seguro, o ex-auditor do TCU Cyonil da Cunha Borges de Farias Júnior (na foto) levou à internet uma versão diferente da que foi difundida pela Polícia Federal. Admite que delatou o esquema. Mas rejeita a qualificação de corrupto arrependido.
Professor de cursinhos preparatórios para concursos públicos, Cyonil quebrou o silêncio num diálogo virtual com ex-alunos que estranharam o envolvimento dele no episódio. A conversa processou-se num site chamado 'Fórum Concurseiros'. Deu-se no domingo, dois dias depois da chegada do escândalo às manchetes. O próprio Cyonil confirmou a autenticidade dos escritos ao repórter Bruno Lupion.
De acordo com a PF, Cyonil teria feito, em fevereiro de 2011, uma confissão. Recebera em 2009 uma oferta de R$ 300 mil. Trabalhava como auditor do TCU em São Paulo. Em troca do dinheiro, teria de redigir um parecer isentando a empresa Tecondi de irregularidades cometidas no Porto de Santos.
Nessa versão, o ex-auditor recebera uma parcela de R$ 100 mi, arrependera-se, abstivera-se de elaborar o parecer, entregara o dinheiro à polícia e delatara o esquema. "Fico triste pelo tratamento dado pela mídia e órgãos de fiscalização, afinal não aceitei, logo não teria como me arrepender. Nunca aceitei qualquer R$", escreveu Cyonil no diálogo travado na web com os ex-alunos.
Coube a Paulo Viera, afastado da diretoria de Hidrologia da Agência Nacional de Águas, oferecer a propina. Segundo Cyonil, o corruptor o "caçou" pela cidade de São Paulo. Endereçou-lhe "milhões de e-mails". Foi ao prédio onde morava para oferecer-lhe o dinheiro. Porém…
Diferentemente do que informa a PF, o ex-auditor sustenta que não recebeu os R$ 100 mil. O dinheiro teria sido deixado por Paulo Vieira na portaria do edifício. "Fiquei atordoado quando vi o pacote, não sabia o que fazer com ele. Decidi guardá-lo em casa e preparar provas para denunciar tudo à PF", anotou Cyonil.
Tomado pelas palavras, Cyonil era amigo de Paulo Viera. "Tinha o cara, inicialmente, como brother […]. Bati pino, não achava que ele fosse capaz de uma p… desta." Surpreso, o subornado teria decidido municiar-se de provas com o deliberado propósito de entregá-las à PF. "Juntei tudo, até meus extratos bancários, algumas gravações que fiz."
Cyonil insinuou que sabe muito mais do que contou. Curiosamente, diz que só irá revelar os detalhes adicionais após o término do inquérito. "Há milhões de outras informações. Foram três anos de e-mails guardados. Que bandido guarda os e-mails na caixa de entrada e saída? Acho que só eu, né?"
Contou aos ex-alunos que, ao entregar à PF parte das provas que colecionara, foi tachado de "louco". Os agentes que colheram seu depoimento teriam declarado que os personagens do esquema lhe "arrancariam o couro". O delator parece concordar com o alerta. "Minha vida já vai virar um inferno a partir de agora."
"Não sou santo", anotou Cyonil no diálogo virtual. Declarou, porém que jamais cometeu o "pecado de denegrir a imagem da administração" pública. Reiterou: "Nunca aceitei, de qualquer forma, R$ algum". Acha que "a galera do lado de lá" tentará conspurcar-lhe a imagem. "Muitos vão acreditar em mim. Muitos vão me apedrejar. Não me arrependo de ter denunciado o esquema", arrematou.
Por ora, a delação de Cyonil resultou no afastamento de meia dúzia de funcionários graduados –entre eles Paulo Vieira e sua "madrinha" Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo. Produziu também a abertura de cinco sindicâncias e uma ordem de Dilma Rousseff para que os atos praticados pelos servidores suspeitos sejam virados do avesso.
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