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Josias de Souza

História: Dilma ajudou a desregular a regulação

Josias de Souza

09/12/2012 22h10

Com esses pareceres escritos por agentes públicos a soldo de interesses privados o governo inovou mais uma vez. Já não há diretores de agências reguladoras. Há agências de diretores desregulados.

O Rosegate, penúltimo escândalo da República, produziu três expurgos nas agências: Paulo Vieira (Águas), Rubens Vieira (Aviação Civil) e Tiago Pereira Lima (Transportes Aquaviários).

Não se chega a semelhante situação na base do improviso. O descalabro exige perseverança e método. A desregulagem começou no alvorecer do governo Lula. A Agência Nacional do Petróleo foi entregue à prospecção do PCdoB.

O caos aéreo revelaria mais tarde que a desfaçatez aterrissara também na Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac. A charuteira Denise Abreu, uma das faces da crise, fora à diretoria de serviços aéreos por indicação de José Dirceu.

Milton Zuanazzi, símbolo da ineficiência que convulsionou os aeroportos, alçara-se à presidência da Anac empurrado por Dilma Rousseff. Afora a familiaridade com o petismo, Denise e Zuanazzi tinham em comum o pouco conhecimento de aviação.

No final de 2006, época em que o apagão aéreo atingiu o seu ápice, Zuanazzi endereçou a Dilma, então chefe da Casa Civil, um e-mail. Por engano, cópias da mensagem foram remetidas a diretores da Anac.

"…Na hora que te parecer oportuno, estou te disponibilizando o mandato de presidente da Anac", escreveu Zuanazzi para Dilma, em português turbulento. "Se não achares necessário, fica a informação que estou seriamente repensando minha permanência na agência."

Zuanazzi queixava-se da rispidez da madrinha nas reuniões de Brasília. "Em todo esse tempo, fiquei sempre com a sensação [sic] que me tratavas nem como chefe da Casa Civil e nem como amiga, e nem as duas coisas juntas."

Anotou que Dilma o tratava como se ele "fosse um devedor eterno por ter sido indicado para presidir a Anac. Em nenhum momento senti qualquer proteção pela cumplicidade natural entre companheiros."

A "cumplicidade" seguraria Zuanazzi no cargo além do razoável. Ele só seria tirado do ar mais de um ano depois. Hoje, Dilma fala em profissionalizar as agências. Faz pose de solução. Na verdade, é parte do problema.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.