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Josias de Souza

Renan é oportunidade que oposição desperdiça

Josias de Souza

28/01/2013 06h17

O desempenho da oposição em 2014 não depende só dos erros do governo, mas da capacidade dos antagonistas de Dilma Rousseff de vender esperança em 2013. A coisa não vem de graça. Exige um programa mínimo de ação pré-eleitoral. Pode ser mínimo como a fantasia de Sabrina Sato à frente da bateria da Vila Isabel, pouco importa. O que interessa é que o enredo do samba faça nexo.

Agora mesmo, uma oposição desconexa desperdiça sua hora no Congresso. O Senado e a Câmara estão na bica de eleger novos presidentes. O jogo tem cartas marcadas. Vão ao comando o senador Renan Calheiros e o deputado Henrique Eduardo Alves, ambos do PMDB. Dispõem do apoio de Dilma e dos outros partidos do conglomerado governista.

Renan e Henrique encontram-se pendurados nas manchetes de ponta-cabeça. São retratados como representantes de um sistema de poder refratário a mudanças –mesmo as mais superficiais. Se existisse oposição no Brasil, os favoritos do PMDB seriam eloquentes razões para se opor. Mas uma oposição inexistente não tem como aproveitar oportunidades. Em verdade, esse tipo de oposição é a oportunidade que a situação aproveita.

Na Câmara, 12 partidos envernizam o favoritismo de Henrique Alves. Entre eles os pseudo-oposicionistas PSDB, DEM e PPS. Invoca-se a praxe da 'proporcionalidade', que atribui à maior bancada a preferência na indicação do presidente. Lorota. Medido em número de deputados, o PMDB é a segunda legenda, não a primeira.

No Senado, Renan tornou-se pule de dez sem precisar nem mesmo se declarar candidato. Crivado de acusações e denunciado pela Procuradoria no STF, o senador relaciona na sua planilha de votos a totalidade dos colegas do DEM e o grosso da bancada do PSDB. Aécio Neves, o senador e presidenciável tucano, finge-se de morto. A cinco dias da eleição, ainda não abriu o bico.

Podendo aproveitar a desqualificação do situacionismo para se qualificar perante o eleitor, a oposição prefere o papel de cúmplice. Fica entendido que não há como distinguir os bons dos maus. Atirando-se um oposicionista e um governista num tanque de lodo, os dois deslizarão da mesma maneira. A indistinção e a cumplicidade confortam Dilma. Amanhã, quando o melado escorrer, ela dirá que não fez senão o que todos os antecessores faziam.

Um programa mínimo de ação pré-eleitoral não daria à oposição a certeza da vitória. Mas talvez impedisse que seus líderes gastassem energias alvejando-se uns aos outros –como recomeçam a fazer Aécio e José Serra. De resto, evitaria a lamentação depois do fato, outro esporte preferido da intelectualidade tucana.

Nos últimos dez anos, a oposição tem entrado em cena mais ou menos tarde. Na maior parte do tempo, dedica-se ao papel de figurante. Quando cai em si, já virou o pano de fundo contra o qual se cumpre o destino glorioso –ou trágico, dependendo do ponto de vista— dos herois do ex-PT.

Neste início de 2013, afora o patrocínio do inaceitável no Congresso, Dilma está às voltas com um PIB baixo, uma inflação alta e uma contabilidade fiscal maquiada. E a oposição, paciente figurante de um enredo alheio, espera uma deixa para entrar em cena. E espera, e espera, e espera…

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.