Renan, Gurgel e a análise de todas as hipóteses
O procurador-geral da República Roberto Gurgel trocou um dedo de prosa com repórteres sobre a denúncia que protocolou contra Renan Calheiros no STF há cinco dias. "Foi uma iniciativa extremamente cuidadosa, extremamente ponderada do Ministério Público, examinada e refletida com o máximo cuidado e extremamente consistente", disse. Na bica de ser devolvido à cadeira de presidente do Senado, nesta sexta-feira (1o), Renan insinuou que Gurgel agiu sob inspiração política. Teve dois anos para se pronunciar e só decidiu denunciá-lo na ante-sala do retorno triunfal.
"Sempre tenho muito cuidado com isso", respondeu Gurgel. "As pessoas estão sempre concorrendo a cargos. Mas não pode ficar o Ministério Público de mãos atadas, subordinado a só oferecer denúncia quando seja politicamente conveniente." Na versão do procurador, a denúncia não foi formalizada antes porque o julgamento do mensalão monopolizava suas atenções.
Na vida, todo mundo tem que raciocinar com hipóteses. Das mais amplas às mais específicas. No caso do que espera o Senado com a volta de Renan à presidência o espaço para a escolha de hipóteses é enorme. Sobretudo porque ninguém pode dizer com 100% de certeza o que decidirá o STF ao julgar a denúncia de Gurgel. Na melhor das hipóteses, Renan será abolvido da acusação de recorrer ao lobista de uma empreiteira para pagar pensão e aluguel à ex-amante com a qual teve uma filha. Na pior das hipóteses, o STF converterá a denúncia contra Renan em ação penal.
Levando-se o raciocínio às fronteiras do paroxismo, a melhor das hipóteses é que Renan seja vítima de um complô da PF, da Procuradoria e da mídia golpista para fazer de um senador modelo um político desonesto. A pior das hipóteses é que, alheio à evidência de que tudo o que está na cara não pode ser uma conspiração da lei das probabilidades contra um inocente, o Senado está prestes a devolver a presidência a um futuro réu. Ou, na pior das piores hipóteses, um futuro condenado.
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