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Josias de Souza

PSB critica em nota oficial favoritismo de Renan

Josias de Souza

30/01/2013 14h44

PSB e a nota tardia no Senado: uma 'autocrítica e 'compromisso com a ética'

Dona de quatro votos, a bancada do PSB no Senado divulgou nota sobre a eleição do novo presidente da Casa. No texto, o partido critica a opção da maioria pelo multi-alvejado senador alagoano Renan Calheiros. Faz isso sem mencionar o nome do favorito do PMDB. O PSB reconhece três obviedades:

1) a sucessão de José Sarney (PMDB-AP) ocorre sob um "quadro de desgaste da imagem institucional" do Senado.

2) a sociedade espera dos senadores, além de "autocrítica", um "compromisso firme com a ética".

3) "além de uma plataforma que resgate a dignidade do Senado, é preciso que o nome do novo presidente esteja associado, perante a opinião pública, a esse ideal de renovação."

Foi o mais próximo que o partido do neopresidenciável Eduardo Campos conseguiu chegar de uma manifestação anti-Renan. A legenda reage a 48 horas da eleição e se esquiva de citar o nome do seu alvo. De resto, não oferece nenhum nome alternativo nem informa se apoia um dos dois disponíveis: Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Assinam a nota do PSB a líder do partido, Lídice da Mata (BA), e os colegas Rodrigo Rollemberg (DF), Antonio Carlos Valadares e João Capiberibe (AP). Manifestaram-se depois de uma reunião com o vice-presidente do PSB federal, Roberto Amaral. Disponível aqui, o texto dos "socialistas" vai reproduzido abaixo:

Por um Brasil melhor, por um Senado melhor

O Brasil vem passando por mudanças que enchem de alegria e esperança o povo brasileiro. Durante as últimas décadas, consolidamos a democracia, universalizamos o acesso à educação básica e derrotamos a inflação. Mais recentemente, reduzimos as desigualdades de "raça", renda, gênero e região. A taxa de desemprego nunca foi tão baixa e os índices de mortalidade infantil também caíram drasticamente.

Temos pela frente uma agenda de investimentos que, se cumprida, constituirá a base do crescimento econômico e do bem-estar da população brasileira por um longo período. Temos também que dar conta de tarefas  gigantescas no plano social. Porém, embora haja ainda um longo caminho a percorrer até a conquista de uma educação de alta qualidade, de serviços de saúde adequados e acessíveis a todos, de transporte público digno e eficaz, de cidades menos assombradas pela criminalidade violenta, o povo brasileiro está cada vez mais mobilizado para a realização desses objetivos.

No plano institucional, aprovamos importantes dispositivos como as leis da Transparência, da Ficha Limpa, do Acesso à Informação e do Combate à Lavagem de Dinheiro. Não há dúvidas de que avançou o combate à corrupção e à ineficiência nas instituições públicas. O povo brasileiro está mais vigilante e exigente e isso é essencial para o aperfeiçoamento do Estado de Direito.

Exatamente por isso, o nosso povo está insatisfeito com os políticos, como confirmam as pesquisas de opinião, de quem espera um comportamento mais condizente com os desafios que o país enfrenta. Isso se reflete, de modo contundente, nos baixos índices de aprovação da atuação e da imagem do Congresso Nacional e do Senado Federal, em particular. E é preciso reconhecer: nosso povo está com a razão! Embora tenha também contribuído para o bom momento que o Brasil vive, a atuação desta Casa tem deixado a desejar.

Os cidadãos e cidadãs, com toda a justeza, se queixam da ineficiência, do desrespeito à ética, da falta de maior sintonia com as grandes aspirações da nação. O resultado é um Senado amesquinhado, enfraquecido, submisso até, na sua relação com o Poder Executivo. Ao mesmo tempo, a omissão reiterada ou a dificuldade em decidir tem aberto espaço para que o Poder Judiciário encampe questões que cabem a esta Casa resolver. Isso acarreta grave prejuízo para a República, uma vez que esta se assenta no equilíbrio entre os poderes.

Da mesma forma, o Senado compromete seu papel como representação igualitária dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal no Congresso Nacional. Debilitada, esta Casa falha em sua missão de porta-voz e defensora dos reclamos e interesses das entidades federadas aqui representadas. Isso acarreta grave prejuízo para a Federação, que se assenta na cooperação equânime das entidades que a compõem.

É nesse quadro de desgaste de sua imagem institucional que se realiza a eleição para a Presidência e a Mesa desta Casa.

O que a sociedade espera de nós, muito além de uma necessária autocrítica, é um compromisso firme com a ética e com a continuidade do processo de transformação do Brasil em uma nação justa e próspera. Devemos, portanto, utilizar esta oportunidade para encontrar a melhor maneira de recuperar a credibilidade desta Casa.

Assim, além de uma plataforma que resgate a dignidade do Senado Federal, é preciso que o nome do novo presidente esteja associado, perante a opinião pública, a esse ideal de renovação.

São enormes os desafios que pesam sobre os membros desta Casa. Somente com o devido senso de responsabilidade histórica, seremos capazes de fazer com que o Senado Federal se ponha à altura do papel que efetivamente lhe cabe, como instituição fundamental para a promoção dos valores e a realização dos objetivos maiores da República."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.