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Josias de Souza

Aécio: ‘Como formulador, governo Dilma acabou’

Josias de Souza

22/02/2013 07h58

Dilma Rousseff ainda dispõe de um ano, dez meses e seis dias para concluir o seu primeiro mandato. Porém, o senador mineiro Aécio Neves, presidenciável do PSDB, afirma: "Esse governo acabou do ponto de vista da formulação" de políticas públicas. Para ele, "o PT abdicou de ter um projeto de país verdadeiramente transformador." Contenta-se agora "em ter um projeto exclusivamente de poder."

Em entrevista ao blog, Aécio declarou que o PSDB trará à luz no mês de maio "uma proposta alternativa ao que está aí". Chamado por ele de "marco inicial", o documento vem sendo elaborado "sem alarde". No pedaço econômico, traz as digitais de idealizadores do Plano Real. Será divulgado na convenção em que o partido renovará sua direção nacional. "Vamos estar bem posicionados para o jogo" sucessório.

Pela primeira vez, Aécio admitiu –assim, sob refletores— a hipótese de assumir a presidência do PSDB federal, em substituição ao deputado federal Sérgio Guerra (PE). "É uma possibilidade", disse ele. "Hoje, maior do que há um mês." Acomodado no comando formal da legenda, o senador deve estrelar a propaganda partidária institucional que irá ao ar também em maio. No segundo semestre, percorrerá o país. Só depois, "no amanhecer de 2014", planeja declarar-se candidato. Mera formalidade, já que nunca soou tão candidato como agora.

Durante a conversa, Aécio afirmou que Dilma cometeu "um equívoco" que pode lhe custar caro: "No momento em que você antecipa o processo eleitoral, a agenda eleitoral se impõe à agenda administrativa." Para manter seu condomínio partidário coeso, acrescentou o senador, Dilma "escancarou de novo o balcão de negócios". Seus aliados percorrem a cena atrás de "mais espaço, mais verbas, mais cargos."

O repórter recordou que o mercado persa de Brasília não foi inaugurado pelo petismo. Mencionou um par de exemplos: Renan Calheiros foi ministro da Justiça de FHC; apadrinhados de Jader Barbalho barbarizaram na Sudam. E Aécio, mimetizando Lula: "Reconheço que o toma-lá-dá-cá não se iniciou agora, no governo do PT, mas nunca antes na história desse país ocorreu essa distribuição de cargos de forma tão ampla…"
Aécio falou ao blog no início da tarde desta quinta (21). Na véspera, ele subira à tribuna do Senado para inventariar os 13 "fracassos" dos dez anos de poderio petista. Horas depois, na festa de aniversário do seu partido, agora com 33, Lula diria que a resposta a Aécio virá em 2014 "com a reeleição da Dilma". Perguntou-se a Aécio se o prestígio do cabo eleitoral, a popularidade da candidata e o peso da máquina federal fazem de Dilma uma contendora favorita.

E ele: "Hoje, eu reconheço que a estrutura do poder, a forma como o PT utiliza os ministérios e os órgãos públicos para estruturar uma base de apoio, dá a eles, não digo um favoritismo, mas uma estrutura maior nessa largada…" Mais adiante, noutro trecho da entrevista, Aécio ponderou: "Na democracia ninguém é imbatível."

Celebrou a perspectiva de uma disputa com a presença de pelo menos quatro candidatos: Dilma, Eduardo Campos, Marina Silva e ele próprio. Isso "favorece a disputa, favorece o país, que terá outras alternativas. Acho que fugir da polarização é sempre muito bom." Antevê uma eleição em dois turnos. "O surgimento dessas candidaturas que, na origem, tinham uma proximidade maior com o PT, preocupa muito mais ao governo do que a nós."

Desde logo, Aécio tenta diferenciar-se na gôndola de alternativas presidenciais: "O PSDB tem, hoje, uma posição confortável porque nós não estamos no divã". Como assim? Não precisamos de tempo "para decidir se somos governo, se somos oposição, se vamos ser governo até o final." Dá-se o oposto, ele acredita, com o "amigo" do PSB: "…Em determinado momento, o Eduardo vai ter que tomar uma decisão: se fica no governo ou se sai do governo. […] Nós não temos essa dúvida, nós somos oposição."

Logo na abertura da entrevista, Aécio declarou-se horrorizado com uma frase dita por Dilma na festa de aniversário do PT. "Fiquei abismado ao ver a presidente da República despindo-se daquilo que costumamos chamar em Minas de liturgia do cargo para dizer simplesmente o seguinte: 'Nós não herdamos nada, nós construímos tudo'."

Acha que o comentário não ofende apenas antecessores como FHC. "É um desrespeito ao Brasil e aos brasileiros, àqueles que nos legaram a democracia. É um desrespeito até aos seus companheiros de luta, que tombaram para que nós, hoje, tenhamos essa discussão franca e aberta, com absoluta liberdade."

Lamentou que "a presidente Dilma" tenha sido "prematuramente" substituída pela "candidata Dilma". Lembrou que no início do governo ela se diferenciara de Lula, retirara o veneno do discurso e até afagara FHC, reconhecendo-lhe o legado benfazejo. "De lá pra cá, ela sucumbiou, ela curvou-se ao discurso do presidente Lula", lamuriou-se Aécio. "O PT tem esse vício de comportamento de considerar o adversário como um inimigo e desconsiderar quaisquer virtudes que ele possa ter."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.