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Josias de Souza

Governo anuncia em propaganda fim da miséria

Josias de Souza

08/03/2013 06h49

O governo levou ao ar uma campanha publicitária que alardeia o fim da miséria no Brasil. A peça reproduzida no vídeo acima foi assistida pelo repórter na noite passada, na maior rede de tevê do país. Passou num dos intervalos do 'Jornal da Globo'.

Exibido num instante em que Dilma Rousseff e Lula surpreendem a oposição com a antecipação do calendário sucessório, o comercial não faria feio no horário dedicado à propaganda eleitoral. Potencializa números e slogans que Dilma exibiu em solenidade pública no Planalto.

Enquanto o presidenciável tucano Aécio Neves ironiza Dilma dizendo que ela quer acabar com a miséria "por decreto", a propaganda fala da pobreza extrema como coisa do passado. Informa que os problemas dos últimos 22 milhões de pobres que existiam no Brasil acabaram.

Anuncia a chegada de um "Brasil novo". E repisa bordões com as digitais de João Santana, o marqueteiro do PT e de Dilma: "Para o Brasil, o fim da miséria é apenas um começo." Ou: "O Brasil não abandonou os pobres. Por isso a miséria está nos abandonando."

Nesta quinta (7), realizou-se no Planalto um encontro da ministra Tereza Campelo (Desenvolvimento Social) com representantes de entidades da dita "sociedade civil". Na sua explanação, Tereza realçou que os 22 milhões de brasileiros do comercial saíram da miséria "do ponto de vista da renda".

Como assim? São pessoas beneficiadas com uma "complementação de renda do Bolsa Família". Em março, conforme Dilma anunciou dias atrás, o complemento chegará aos 2,5 milhões de beneficiários que faltavam. Com isso, explicou a ministra, não há mais "nenhuma família com renda mensal inferior a R$ 70 por pessoa."

Repetindo: o que o governo celebra é o fato de ter assegurado a todas as famílias um repasse de setenta reais por pessoa. E quanto ao "Brasil novo" da propaganda? Bem, vencido o que a ministra chamou de "primeiro passo" rumo à superação da miséria, avança-se agora à fase seguinte.

Consiste, segundo Tereza Campelo, em reforçar ações de "inclusão produtiva". Coisas como qualificação profissional, assistência técnica, extensão rural e estímulo à produção. Quer dizer: a antecipação do cronograma eleitoral inclui trazer para o presente um "Brasil novo" ainda por fazer.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.