Para salvar discurso de Dilma, Tesouro socorre distribuidoras de energia com repasse bilionário
O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) veio à boca do palco para confirmar algo noticiado aqui em fevereiro: o Tesouro Nacional vai cobrir o gasto extra provocado pela utilização intensiva de energia produzida por termelétricas. "Estamos socorrendo as distribuidoras de energia elétrica em benefícios dos consumidores", disse Lobão.
Quantos bilhões migrarão das arcas da Viúva para a caixa registradora das empresas? Presente à entrevista de Lobão, o secretário do Tesouro se absteve de informar. Declarou apenas que o tamanho do espeto depende do tempo que as usinas termelétricas terão de ficar ligadas. Hummm!!!
Materializou-se o paradoxo: em feveriero, começou a vigorar, sob fanfarras, o desconto médio de 20% nas contas de luz, conforme prometera Dilma Rousseff. Simultaneamente, as distribuidoras de energia elétrica pedem em Brasília autorização para reajustar suas tarifas.
Se autorizasse os reajustes, a Agência Nacional de Energia Elétrica faria de Dilma uma parlapatona e borrifaria gasolina nos incendiados índices de inflação. Resultado: para evitar os reajustes na conta de luz, abriram-se os cofres do Tesouro. Lobão declara que o socorro às distribuidoras visa beneficiar os consumidores. Lorota. O objetivo é salvar o discurso eleitoral de Dilma. E acalmar a inflação.
Acompanhe o raciocínio: com uma mão, a presidente concede aos consumidores o desconto na conta de luz. Com a outra, o Tesouro libera dinheiro público –o meu, o seu, o nosso— às empresas distribuidoras. São bilhões que deixarão de ir para escolas, hospitais, e outros guichês públicos.
Para piorar, sonega-se ao consumidor o tamanho do rombo. Já estava combinado que o Tesouro gastaria R$ 8 bilhões para implementar o corte nas contas de luz. Descobre-se agora que o buraco será ampliado para abrigar o custo das térmicas.
O presidente de uma grande distribuidora de energia da região Sudeste estima que a nova fenda roçará a casa dos R$ 25 bilhões até o final do ano. Um secretario estadual de energia ouvido pelo repórter estimou que, até este mês de março, a fatura já soma algo como R$ 10 bilhões.
Quem quiser pode culpar São Pedro, que não mandou as chuvas para encher os reservatórios das hidrelétricas e forçou o acionamento das térmicas. Mas quem preferir esquivar-se do papel de bobo deve levar em conta que Dilma virou gestora de um contra-senso.
Nada contra o desconto nas contas de luz. Poderia ter sido obtido, porém, cortando-se tributos que incidem sobre as tarifas. De resto, um governo responsável recomendaria comedimento ao consumidor num instante em que a água escasseia nos reservatórios.
Fez-se o oposto: com seu silêncio e com sua transparência de cristal Cica, o governo estimulou o esbanjamento de milhares de megawatts que escasseiam nas hidrelétricas. É como já foi escrito aqui: não se pode exigir de Dilma que faça chover. Mas pode-se pedir a ela que evite mandar a lógica ao raio que a parta.
Para complicar, o ministro Lobão injetou um quê de eleição no anúncio de que a bolsa da Viúva entrou na roda. Disse que, noves fora o custo das térmicas, o Tesouro foi chamado também porque as estatais Cesp, Cemig e Copel –leia-se governos tucanos de São Paulo, Minas e Paraná— negaram-se a aderir ao plano de antecipar a renovação dos contratos de concessão.
Na versão de Lobão, ao não aderir ao plano, as estatais geridas pelo tucanato deixaram as distribuidoras de energia ociosas. Na conta do ministro, houve uma subcontratação de cerca de 2 mil megawatts. Isso teria forçado as distribuidoras a comprar energia no mercado de curso prazo, a preços mais altos. O ministro foi categórico: "A não adesão das distribuidoras ao modelo proposto forçou a compensação pelo Tesouro."
Ouvido pelo blog, o secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal, comentou: Infelizmente, o ministro Lobão está desinformado. Ocorre o contrário: a eficiência dos serviços prestados pela Cesp tem contribuído decisivamente para o abastecimento de energia."
Aníbal prosseguiou: "A Cesp está gerando toda a energia que pode gerar com o menor preço médio de mercado. Só posso supor que o ministro também esteja enveredando pelo caminho da presidente de politizar essa questão. Nós não vamos assumir as consequências da política equivocada do governo, do destempero das autoridades e das decisões precipitadas."
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