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Josias de Souza

PSB só devolverá cargos a Dilma no fim do ano

Josias de Souza

17/03/2013 06h07

A disposição do PSB de devolver a Dilma Rousseff os cargos que ocupa no governo é inversamente proporcional à evolução da candidatura de Eduardo Campos à sucessão de 2014. No comando de dois ministérios, o partido do governador de Pernambuco decidiu que não vai abrir mão de suas posições antes de setembro.

A relação de Eduardo com Dilma está crivada de ironias, além da ironia maior de a presidente ter que tratar como aliado o adversário que se arma contra ela refugiado na trincheira do governismo. Neste sábado, ao formalizar a dança de cadeiras que vitaminou na Esplanada o PMDB e o PDT, Dilma soou assim:

"Eu aprendi que, numa coalizão, você tem que valorizar as pessoas que contigo estão, que são companheiros que acompanham a gente em uma jornada diuturna e que, portanto, têm que estar com a gente nos bons e nos maus momentos, e nós com eles".

Aplicadas ao PSB, as palavras de Dilma fazem da lealdade política uma caricatura da sinceridade. Eduardo afirma que ainda não decidiu se disputará a cadeira de Dilma. E ela finge que acredita. Faz isso por saber que, numa eleição em dois turnos, não convém converter aliados implícitos em inimigos explícitos.

Um dos ministros do PSB, o pernambucano Fernando Bezerra, foi acomodado na pasta da Integração Nacional por indicação do próprio Eduardo. O outro, José Leônidas Cristino, foi alçado à pasta dos Portos sob apadrinhamento do governador do Ceará, Cid Gomes, e do irmão Ciro Gomes.

Ao debater internamente a hipótese do desembarque, Eduardo e seus operadores concluíram que a saída da dupla de ministros teria o peso de um lançamento formal da candidatura presidencial do PSB. No gogó, alega-se que o partido é contra a antecipação do calendário eleitoral. Na prática…

Pelo menos três dos seis governadores do PSB rogaram a Eduardo que retarde a formalização da candidatura. Por quê? Um deles explicou ao repórter: "Neste segundo ano da gestão Dilma, Brasília tem sido mais generosa com os Estados. Falo de verbas. Não é prudente cruzar um palanque no caminho dos convênios."

Além de Pernambuco, o partido governa o Espírito Santo (Renato Casagrande), o Ceará (Cid Gomes), o Amapá (Camilo Capiberibe), a Paraíba (Ricardo Coutinho) e o Piauí (Wilson Martins). Para alguns desses Estados, dependendo do volume, o dinheiro federal não traz prosperidade. Mas leva.

Normalmente acomodatício, o estilo de Eduardo ferveu no final de fevereiro. Juntaram-se no noticiário três faíscas: Lula lançou a recandidatura de Dilma, Ciro Gomes disse que o PSB deveria apoiá-la, e o petismo borrifou na atmosfera um veneno: Bezerra, o ministro de Eduardo, se filiaria ao PT.

Numa reunião com seus operadores, em Recife, Eduardo ameaçou chutar o balde. Foi contido. Um dos participantes da reunião jogou sobre a mesa um chiste de Miguel Arraes, avô de Eduardo: quem engole um boi não pode se engargar com uma mosca. Recordou-se a Eduardo que, no seu caso, o boi já foi mastigado.

Para justificar a retenção dos ministérios e de todos os cargos federais que vêm embutidos neles, o PSB construiu a tese segundo a qual os postos foram obtidos não por conta do futuro, mas pelo suporte à candidatura de Dilma em 2010. Assim, se estiver incomodada, a presidente é quem deve acionar a caneta.

De resto, Eduardo costuma reproduzir conversa que teve com a própria Dilma antes de Lula adiantar a folhinha. O governador conta ter dito à presidente que, se tivesse que decidir hoje, a maioria do PSB aprovaria sua candidatura presidencial. "Mas nós vamos esperar 2014", disse Eduardo a Dilma segundo seu próprio relato.

A conversa ocorreu no Alvorada. A anfitriã, teria reagido com naturalidade. Renovou o "respeito" que nutre pelo interlocutor e concordou em jogar a definição para mais adiante. Enquanto isso, Eduardo percorre a cena política como um governista de dois gumes. Preserva Lula e diz que é possível "fazer muito mais" do que Dilma foi capaz de realizar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.