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Josias de Souza

Até FHC refuga Serra na presidência do PSDB

Josias de Souza

20/03/2013 04h39

Nem mesmo Fernando Henrique concordou com a ideia de entregar ao velho amigo José Serra o comando do PSDB federal. Em conversa com um amigo, FHC disse: "O que o Serra quer é a presidência do partido. E isso não é possível dar a ele." Enfatizou: "A presidência é inegociável."

Fechado com o projeto presidencial de Aécio Neves, FHC defende que o senador mineiro assuma o posto do deputado Sérgio Guerra (PE), atual presidente do PSDB, na convernção partidária marcada para maio. Acha que a entrega do leme a Serra, que não se bica com Aécio, teria um efeito simbólico devastador.

Em nova tentativa de estreitar a inimizade, Aécio foi ao escritório de Serra, em São Paulo, na noite de segunda-feira. Conversaram por cerca de três horas. Do teor desse diálogo sabe-se apenas o pouco que foi compartilhado por cada um. Na versão difundida por Aécio, ambos concordaram no essencial: compartilham o desejo de derrotar o PT em 2014.

No complemento propagado por um correligionário de Serra, o engajamento dele ao projeto de Aécio dependerá essencialmente do modo como for tratado. "O Serra não é um zero à esquerda", diz seu defensor. "Em 2006, ele se elegeu governador de São Paulo no primeiro turno. Foi ao segundo turno na sucessão de 2010 e na disputa municipal de 2012. Não fosse por outra razão, merece respeito pelo capital político de que dispõe."

Embora a troca de farpas no PSDB seja intensa, nenhum tucano de peso fala em desrespeitar Serra. Ao contrário, dizem que a intenção é a de integrá-lo aos planos partidários. Talvez não na posição que ele gostaria. Um partidário de Aécio resume a encrenca:

"O Serra precisa entender o que 99% do partido já compreendeu. Ele teve suas chances. Perdeu. Agora, é a vez de Aécio. Precisamos chegar a 2014 remando numa mesma direção. Ninguém dará a Serra o poder de comandar os remadores. Mas se ele quiser remar, não lhe será negado um remo."

Cotejados os relatos, Serra teria afirmado a Aécio que não é fato que ele queira presidir o PSDB. Uma lorota, a julgar pelo que diz FHC em privado. De concreto, por ora, uma evidência: a dois meses da convenção, Aécio e Serra não celebraram nenhum acordo quanto à divisão dos cargos da Executiva nacional.

Pouca gente no PSDB leva a sério o lero-lero segundo o qual Serra poderia transferir-se para o PPS. Entre os que descrêem dessa hipótese está FHC. Ele diz que Serra perderia o nexo político se escalasse em São Paulo um palanque sem a presença dele e do governador tucano Geraldo Alckmin.

De resto, FHC afirma que, se deixasse o PSDB, Serra não levaria consigo nem os tucanos que lhe são mais próximos. Ele cita dois nomes: Alberto Goldman, vice-presidente do partido; e o senador Aluysio Nunes, líder do tucanato no Senado. O governador Geraldo Alckmin tampouco acredita no risco de Serra alçar voo.

Alckmin, a propósito, voou para Brasília na manhã desta terça. Foi defender os interesses tributários de São Paulo num debate no Senado. Levou de carona no jatinho Aécio, que passara a noite em São Paulo. Afora a conversa de bordo, almoçaram juntos na Capital. De novo, sabe-se pouco sobre o teor desses diálogos. No essencial, teriam confirmado uma pajelança que já havia sido marcada para segunda-feira (25) que vem.

Nesse dia, Aécio retornará a São Paulo. Fará uma palestra de candidato num congresso do PSDB paulista. Para tentar vender uma unidade ainda por construir, o presidenciável posará para fotos ao lado de FHC, de Alckmin e da bancada de congressistas de São Paulo. Serra não dará as caras. Alega que estará fora do Estado, em viagem.

Ao deixar o gabinete de Aécio, Alckmin deu com outro senador tucano na porta do elevador. Foram conversando até a garagem. Antes de entrar no carro, o governador disse ao senador: "Estamos arredondando tudo para o Aécio em São Paulo". Curiosamente, Alckmin ainda não fez em público nenhuma defesa categórica da conversão de Aécio em presidente do PSDB. Parece enxergar esse pedaço do plano como uma bola quadrada. Terá de ser convencido.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.