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Josias de Souza

Deputada do PSC de Feliciano deixará comissão

Josias de Souza

01/04/2013 18h30

Pastores como Marco Feliciano falam em Deus com tal convicção que muita gente fica tentada a acreditar que Ele não existe. Nesta segunda-feira, porém, Deus deu sinal de vida na Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Vice-presidente do colegiado, a deputada Antônia Lúcia, filiada ao mesmo partido de Feliciano, o PSC, informou que pedirá para sair.

Por quê? Evangélica, Antônia sentiu-se ofendida com a pregação de Feliciano numa igreja de Passos de Minas. Incomodado com manifestantes que protestavam do lado de fora do templo, o pastor saiu-se com uma pérola: "Essa manifestação toda se dá porque, pela primeira vez na história desse Brasil, um pastor cheio de espírito santo conquistou o espaço que até ontem era dominado por Satanás."

Integrante da Comissão de Direitos Humanos há três anos, a irmã Antônia refugou a carapuça. "Em respeito à minha própria pessoa, ao meu trabalho como parlamentar, eu não aceito uma declaração dessas. Eu acho que nós temos que separar igreja de Parlamento."

"Existiam outras pessoas evangélicas", acrescentou Antônia. "Quando tomarem conhecimento disso também vão ficar ofendidas." A deputada saiu em defesa também de não-evangélicos como o deputado Domingos Dutra (PT-MA), antecessor de Feliciano no comando da comissão. Disse ter convivido com ele sem perceber nada que lhe pemita concluir que se trata de um ser "satânico".

Ao farejar o cheiro de queimado, Feliciano foi ao Twitter. Disse ter evocado o Tinhoso como sinônimo de adversário: "Quando cito Satanás estar em locais de trabalho, falo sobre adversários…" Apressou-se em explicar-se ao partido: "Falei com o líder do PSC, André Moura, e expliquei também o fato…"

Tocou o telefone também para a colega que promote bater em retirada: "Acabei de falar com a deputada Antônia Lúcia, expliquei o ocorrido em Minas Gerais, e pedi desculpas pelo mal entendido. E ela aceitou." Aceitou? Hummmm. Será que Deus não é full time?

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.