Além de PC e namorada, assassinaram a lógica
Até a noite passada, Paulo Cesar Farias, o PC, era apenas uma aberração histórica. As absolvições do Tribunal do Júri de Maceió converteram-no numa aberração sem lógica. Rememore-se desde o início: num país em que os criminosos do poder, quando pilhados, amargam no máximo algumas semanas de manchetes embaraçosas, o coletor de Fernando Collor passou uma temporada na prisão. Numa terra em que os segredos mais cabeludos costumam dar em nada, PC foi silenciado à bala.
Do improvável, o caso deslizou para o inimaginável. O caixa de Collor havia sido vítima de um reles crime passional, concluiu a diligente polícia alagoana ainda no alvorecer das supostas investigações. A namorada jovem atirou no amante maduro –vulgo 'galinha dos ovos de ouro'— e depois se matou.
Do inimaginável evoluiu-se para o inesperado. Desembarcando da pantomima, o Ministério Público Estadual de Alagoas chegou à conclusão de que PC e a amante foram assassinados. A Promotoria denunciou à Justiça quatro ex-seguranças do tesoureiro de Collor –seriam co-autores, já que não evitaram o infortúnio do chefe. O executor dos disparos? Nem sinal. O mandante? Ora, não venha você com pergunta difícil.
Decorridos 17 anos, migrou-se finalmente do inesperado para o inacreditável. A maioria dos jurados concordou com a acusação num ponto: o que houve foi um duplo homicídio. Paradoxalmente, os mesmos jurados absolveram os quatro ex-seguranças. O assassinato da lógica devolveu a aberração às suas origens: dois assassinados e nenhum assassino.
Nesse contexto, é melhor retornar à versão do crime passional. Não resolve o mistério. Mas diverte a plateia e preserva a ingenuidade nacional. O espectador é como que convidado a perguntar de si para si: se o STF livrou a cara de Fernando Collor depois de tudo o que veio à tona sobre o governo dele, que outras fichas poderiam saltar do arquivo de PC Farias para ser lacrado assim, com sangue?
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