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Josias de Souza

Choque de rua curou Dilma de sua políticofobia

Josias de Souza

27/06/2013 17h12

Políticos tradicionais costumam ser imunes à doença. Dilma Rousseff contraiu-a ao longo de sua carreira como técnica. Ninguém sabia como chamar o medo dela de fazer política. Vários pavores já haviam sido catalogados: claustrofobia (medo de lugares fechados), acrofobia (medo de altura), ailurofobia (medo de gatos), iatrofobia (medo de médicos)… Mas o medo de estar, por exemplo, rodeado de políticos, num ambiente fechado, ninguém sabia que nome tinha. Até que…

Descobriu-se que a políticofobia (medo de políticos) era uma das neuroses de Dilma. A moléstia parecia incurável. Porém, submetida ao tratamento de choque das ruas, Dilma superou sua neura. A onda de protestos fez dela uma grande compositora. A presidente agora quer compor com todo mundo. Recebeu a rapaziada do Movimento Passe Livre. Foi à mesa com 27 governadores e 26 prefeitos. Trocou um dedo de prosa com o presidente da OAB. Manteve contato com Joaquim Barbosa, do STF. Esteve com ativistas sociais. Sentou-se com os mandachuvas das centrais sindicais.

Nesta quinta, Dilma está recebendo os presidentes e líderes de dez partidos governistas. Na sequência, quer falar com os líderes da oposição. É como se uma ex-Dilma que ninguém supunha existir quisesse tirar em uma semana o atraso dos contatos que Dilma não realizou em dois anos e meio de mandato.

O resultado é tão alvissareiro que Dilma venceu até outro pavor que a dominava sempre que era obrigada a fazer política: a catagelofobia (medo do ridículo). No lugar dos medos velhos, desenvolveram-se na presidente outras neuroses, já dissecadas nos compêndios médicos: a eremofobia (medo de ficar só) e a atiquifobia (medo do fracasso). Dilma era uma presidente sem tempo. A ex-Dilma tem uma agenda mais flexível. Nela cabe todo mundo, de Joaquim Barbosa a Preto Zezé, o presidente da Central Única das Favelas.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.