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Josias de Souza

STF colocará tucano para piar em pleno 2014

Josias de Souza

21/07/2013 19h18

Fazer política é desenhar sem borracha. Quando o destino dá as caras, naquela fração de segundo em que o sinal muda de verde para amarelo, o sujeito precisa decidir se pisa no freio ou no acelerador. Faça o que fizer, não dá para apagar depois. O sinal piscou para o PSDB no momento em que se descobriu que, em 1998, quando o governador mineiro Eduardo Azeredo guerreava pela reeleição, as arcas de sua campanha foram recheadas por um esquema igual ao que o PT utilizaria quatro anos depois. O mesmo operador (Marcos Valério), a mesma casa bancária (Rural), os mesmos métodos (empréstimos simulados, para encobrir desvios de verbas públicas).

Apanhado no contrapé, Azeredo saiu-se à Lula: "Eu não sabia". Com isso, legitimou o lero-lero usado pelo então soberano quando os companheiros foram pilhados comendo melado com as mãos: "o PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil sistematicamente." Nessa época, Azeredo era senador. Presidia o PSDB federal. E o tucanato tratou-o a golpes de silêncio. Em vários momentos, os tucanos disseram que discutiriam a situação de Azeredo, hoje um obscuro deputado federal. E nada.

Em 2014, o PSDB terá de fazer por pressão o que não fez por convicção. O STF julgará, finalmente, o mensalão do tucanato mineiro. Conforme já noticiado aqui, são grandes as chances de Azeredo arrostar uma condenação. Em pleno ano eleitoral, numa fase em que se espera dos partidos que exponham suas virtudes políticas, o PSDB terá de explicar porque preferiu manipular a moralidade alheia a olhar para o próprio rabo.

Em novembro de 2012, quando o PT soltou uma nota acusando o STF de julgar companheiros politicamente, condenando-os sem prova, o PSDB expediu uma contranota. Escreveu: "O Supremo Tribunal Federal vem cumprindo o seu papel e tem contribuído enormemente para o fortalecimento das nossas instituições e da democracia no Brasil.
O julgamento do mensalão honra as instituições brasileiras e aponta na direção de um país mais igual, no qual a impunidade não prevalece."

Se é verdade que o destino é caprichoso, os mensaleiros do PT estarão na cadeia no instante em que o STF condenar o tucano Azeredo por ter cruzado o sinal vermelho na campanha de 1998. E certas pessoas talvez compreendam a aversão das ruas de 2013 aos políticos tradicionais. A rapaziada perdeu a paciência com dois fenômenos: tudo "o que é feito no Brasil sistematicamente" e esse silêncio retumbante.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.