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Josias de Souza

Quem ouve Lula conclui que a culpa é do queijo

Josias de Souza

14/08/2013 05h35

Lula esteve em Brasília nesta terça (13). No pedaço visível de sua programação, tomou parte do ato de  lançamento da recandidatura de Rui Falcão à presidência do PT. Ao discursar, deu mostras de que o descarrilamento do PSDB de São Paulo remoçou-lhe a língua. "Nós, petistas, conquistamos o direito de andar de cabeça erguida nesse país, de ter orgulho da nossa camisa vermelha, da nossa estrela", disse.

"Quando alguém nosso errar, nós mesmos punimos. Nós não precisamos que os outros venham dar lições na gente. Não precisamos que formadores de opinião pública fiquem ditando regra daquilo que a gente sabe fazer e muito bem." Considerando-se que os condenados do mensalão permanecem na legenda, o PT tampouco precisa do STF. Isso é que partido eficiente. Ele mesmo comete os crimes, ele mesmo julga, ele mesmo absolve.

Evocando as ruas cheias de junho, Lula deu conselhos à futura direção do PT. "Mais pé na estrada e menos bunda na cadeira." Para ele, petista que é petista não pode ter medo de asfalto. Se a rapaziada reclamar dos políticos, é preciso reagir. "Eu fico puto quando político não reage", ralhou.

"Quando o cidadão diz que não gosta de política, que ninguém presta, que todo mundo é ladrão, pergunta em quem ele votou na última eleição. […] Eles ficam xingando a classe política, dizendo que não gosta de político, mandem eles entrar. Manda criar um partido político, se candidatar."

Lula acredita que a garotada não saiu de casa para protestar contra o PT. Fingindo que não viu a hostilidade às bandeiras vermelhas, o patrono de Dilma indagou: "Qual é a placa que o povo levantou na rua ofensiva a nós? Qual a placa que ele levantou que nós já não levantamos algum dia? Só faltou a placa do Fora FMI!".

Como se vê, a ex-presidência fez muito bem a Lula. Mais um pouco e ele bota uma mochila nas costas e vai ao meio-fio brandindo um cartaz com inscrição criativa: "A culpa é do queijo, não dos ratos".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.