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Josias de Souza

No Pará, presos reformam escolas e hospitais

Josias de Souza

30/08/2013 16h17

A contraprova do acerto das teses de Darwin está nos presídios do Brasil. Quem já visitou uma penitenciária teve a oportunidade de notar que o homem brasileiro já está até involuindo. No Pará, projeto idealizado por um juiz tenta demonstrar que é possível retomar a teoria da evolução humana a partir do inferno.

Uma vez por mês, um grupo de 300 homens e mulheres deixam as cadeias em 16 cidades paraenses para trabalhar. Realizam reformas e pequenos reparos em praças e prédios públicos –escolas, hospitais e até delegacias de polícia. Chama-se Deomar Barroso o magistrado que colocou o projeto em pé.

A coisa começou em 2003. Agora, tornou-se objeto de estudo do Conselho Nacional de Justiça, à procura de boas práticas que ajudem a civilizar o cumprimento de penas no Brasil. O projeto envolve riscos. Na restauração de praças, por exemplo, grupos de até 30 presos manuseiam ferramentas como facões e enxadas.

Mas o que sobressai na experiência paraense são os benefícios. Afora a melhoria da paisagem urbana e os consertos hidráulicos e elétricos feitos em prédios públicos, o juiz Deomar conta que "o trabalho resgata a autoestima dos presos". Obriga-os a lidar com valores como ética, disciplina, moral e trabalho.

Além de mão de obra, os presos fornecem experiência. Em palestras para estudantes levam para as salas de aula da rede pública relatos do inferno. "Eles contam como é dividir um só banheiro com 20 colegas de cela, ver gente sendo morta na prisão, se alimentar da péssima comida geralmente servida nos presídios, ser abandonado pela própria família", diz o doutor Deomar Barroso.

A iniciativa do Pará bem poderia ser reproduzida em Brasília. Seria edificante ver o deputado-presidiário Natan Donadon agarrado ao cabo de uma enxada. A imagem de Sua Excelência capinando numa praça pública da periferia da Capital da República seria reconfortante.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.