No Pará, presos reformam escolas e hospitais
A contraprova do acerto das teses de Darwin está nos presídios do Brasil. Quem já visitou uma penitenciária teve a oportunidade de notar que o homem brasileiro já está até involuindo. No Pará, projeto idealizado por um juiz tenta demonstrar que é possível retomar a teoria da evolução humana a partir do inferno.
Uma vez por mês, um grupo de 300 homens e mulheres deixam as cadeias em 16 cidades paraenses para trabalhar. Realizam reformas e pequenos reparos em praças e prédios públicos –escolas, hospitais e até delegacias de polícia. Chama-se Deomar Barroso o magistrado que colocou o projeto em pé.
A coisa começou em 2003. Agora, tornou-se objeto de estudo do Conselho Nacional de Justiça, à procura de boas práticas que ajudem a civilizar o cumprimento de penas no Brasil. O projeto envolve riscos. Na restauração de praças, por exemplo, grupos de até 30 presos manuseiam ferramentas como facões e enxadas.
Mas o que sobressai na experiência paraense são os benefícios. Afora a melhoria da paisagem urbana e os consertos hidráulicos e elétricos feitos em prédios públicos, o juiz Deomar conta que "o trabalho resgata a autoestima dos presos". Obriga-os a lidar com valores como ética, disciplina, moral e trabalho.
Além de mão de obra, os presos fornecem experiência. Em palestras para estudantes levam para as salas de aula da rede pública relatos do inferno. "Eles contam como é dividir um só banheiro com 20 colegas de cela, ver gente sendo morta na prisão, se alimentar da péssima comida geralmente servida nos presídios, ser abandonado pela própria família", diz o doutor Deomar Barroso.
A iniciativa do Pará bem poderia ser reproduzida em Brasília. Seria edificante ver o deputado-presidiário Natan Donadon agarrado ao cabo de uma enxada. A imagem de Sua Excelência capinando numa praça pública da periferia da Capital da República seria reconfortante.
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